EUA transformariam Taiwan em uma ‘paisagem infernal’ para conter invasão da China, diz militar

Segundo almirante norte-americano, país tem planos para impedir ação 'curta e violenta' planejada por Beijing para anexar a ilha

Caso seja forçada a a recorrer à força para anexar Taiwan, abrindo mão dos métodos pacíficos que diz preferir, a China pretende “oferecer ao mundo uma guerra curta e violenta” que não permita uma reação dos aliados da ilha. Os EUA, porém, têm um plano para conter a fúria chinesa. O almirante Samuel Paparo, novo chefe do Comando Indo-Pacífico norte-americano, disse ao jornal The Washington Post que a ideia é transformar a região em “uma paisagem infernal” para derrotar as tropas de Beijing.

O militar revelou sua estratégia durante o recente Diálogo Shangri-La, eventual anual organizado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês). O plano prevê a construção e implantação de milhares de drones, medida que segundo ele se faz urgente. Os aparelhos não tripulados invadiriam o Estreito de Taiwan e manteriam os militares da China ocupados até a intervenção das forças norte-americanas em apoio à ilha.

Paparo, entretanto, não deu maiores detalhes sobre o plano, que inclui “uma série de capacidades confidenciais”. Limitou-se a dizer que a estratégia militar tornaria o trabalho do Exército de Libertação Popular (ELP) chinês “totalmente miserável por um mês”. E isso, avalia ele, daria às Forças Armadas dos EUA tempo suficiente para contra-atacar antes que a ação relâmpago de Beijing tivesse sucesso.

Drone da Marinha norte-americana em ação (Foto: dvidshub.net//Picryl)

De acordo com Josh Rogin, autor da entrevista com o almirante, o governo norte-americano dá sinais de que já vem colocando o projeto em prática. O principal deles, o investimento de bilhões de dólares pelo Departamento de Defesa no programa Replicator, que visa a construção de inúmeros drones marinhos e aéreos.

O problema, de acordo com o almirante, é o orçamento enxuto destinado ao projeto. Ele afirmou que o Comando Indo-Pacífico tem uma lacuna de US$ 11 bilhões na projeção de gastos para este ano, enquanto a China gasta até três vezes mais com defesa do que o apontado em seu orçamento oficial.

Outra forma de a estratégia norte-americana fracassar é Beijing mudar seus métodos. Oficialmente, o país diz que a primeira opção é a anexação pacifica, algo que foi dito pelo próprio presidente Xi Jinping no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC).

“Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias.”

Uma segunda alternativa seria impor um bloqueio à ilha, impedida assim de ter acesso a tudo de que necessita para atender às necessidades de seus cidadãos. Isso inclusive jogaria o ônus de desencadear um conflito para o Ocidente, vez que o plano poderia ser colocado em prática sem que necessariamente as armas do ELP fossem usadas.

Há inclusive a opção que aparentemente já está em curso, citada em recente relatório da empresa de consultoria e gestão norte-americana Booz Allen Hamilton. Trata-se de uma “estratégia cibernética” para anexar Taiwan sem uma invasão militar, usando desinformação e propaganda estatal para convencer a ilha de que se unir a Beijing é a melhor alternativa.

Paparo admite tal risco, mas teme seus efeitos. “A região tem duas escolhas. A primeira é que eles podem se submeter e, como resultado, abrir mão de algumas de suas liberdades. Ou podem se armar até os dentes”, disse. “Ambos os casos têm implicações diretas para a segurança, a liberdade e o bem-estar dos cidadãos dos Estados Unidos da América.”

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