Processo de anexação de Taiwan está em curso e não prevê o uso da força, aponta estudo

China realiza uma grande campanha cibernética para forçar a ilha a aceitar a reintegração sem que um único tiro seja disparado

A China elaborou uma “estratégia cibernética” para anexar Taiwan sem uma invasão militar, e ela está em curso neste momento. Essa é a conclusão de um estudo realizado pela empresa de consultoria e gestão norte-americana Booz Allen Hamilton, que nesta semana divulgou um relatório baseado em pesquisa e análise de código aberto sobre a situação no Estreito de Taiwan.

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Segundo a empresa a invasão é tida como uma alternativa extrema mesmo pelo governo chinês, e uma guerra neste momento “não é inevitável nem iminente”. Em vez disso, a China prioriza uma operação digital que sequer prevê um grande ciberataque, mas sim uma ação abrangente e gradual para “isolar, enfraquecer e absorver Taiwan a longo prazo.”

“Isso é feito por meio de espionagem, roubo de dados, disseminação de mentiras e muito mais. A RPC (República Popular da China) também tem como alvo as infraestruturas críticas dos EUA com ameaças cibernéticas para dissuadir o envolvimento dos EUA no caso de uma crise em Taiwan”, diz o relatório.

Soldados do Exército de Libertação Popular da China durante uma parada militar (Foto: WikiCommons)

A avaliação da Booz Allen Hamilton, de que uma invasão militar não é a prioridade chinesa, não chega a ser novidade. Ela é endossada inclusive por autoridades militares norte-americanas, como o general Charles Brown Jr., chefe do Estado-Maior das Forças Armadas norte-americanas.

“Eu acho que Xi Jinping não quer realmente tomar Taiwan à força. Ele tentará usar outras maneiras de fazer isso”, disse o oficial em novembro do ano passado, segundo a rede Bloomberg. Ainda de acordo com o general, Beijing tem uma série de alternativas para “exercer pressão crescente sobre Taiwan, seja militarmente, diplomaticamente, economicamente.”

O relatório reforça que a China não descarta ir à guerra, mas esta seria a última opção. “Pública e privadamente, a RPC tem consistentemente dito que só invadiria Taiwan se linhas vermelhas específicas fossem cruzadas e se a ‘reunificação’ negociada se tornasse impossível”, diz o texto.

O próprio presidente chinês falou nesse sentido no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse Xi ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

Semeando a divisão

Segundo os autores do estudo, a campanha cibernética em curso tem uma série de frentes, como espionagem, desinformação e propaganda. Assim, a China acredita que conseguirá “degradar as principais vantagens de Taiwan” em áreas cruciais para sua economia, como a de semicondutores, bem como “intimidar a liderança e os parceiros de Taiwan” e “semear a divisão”.

Se bem-sucedida, a Booz Allen Hamilton afirma que essa campanha eventualmente impedirá os “movimentos em direção à soberania taiwanesa” sem que seja necessário “precipitar a ‘reunificação’ imediata”, o que exigira ação militar.

A invasão física, segundo o estudo da empresa, depende de “condições específicas e necessárias” que não estão presentes neste momento. Mesmo o cerco militar que vem sendo feito pelo ELP, com manobras marítimas e incursões aéreas, funciona mais como ferramenta de dissuasão que como preparação efetiva para um ataque.

A análise é compatível com a Avaliação Anual de Ameaças da Comunidade de Inteligência dos EUA divulgada neste ano.

“Beijing continuará a aplicar pressão militar e econômica, bem como mensagens públicas e atividades de influência, ao mesmo tempo em que promove a integração econômica e social de longo prazo entre os dois lados do Estreito para induzir Taiwan a avançar em direção à unificação”, diz o documento do governo norte-americano.

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