Ex-executivo da Samsung é acusado de roubar tecnologia de chips para fábrica chinesa

Suspeito teria roubado os projetos da gigante sul-coreana entre 2018 e 2019 e está detido à espera de julgamento

Promotores sul-coreanos acusaram na segunda-feira (12) um ex-executivo da gigante local Samsung de roubar segredos empresariais avaliados em centenas de milhões de dólares para estabelecer uma fábrica de chips falsos na China. A disputa pelos semicondutores tornou-se um assunto controverso entre Washington e Beijing, que estão em uma intensa disputa pelo acesso à tecnologia e aos suprimentos necessários para a fabricação de chips. As informações são da rede Voice of America (VOA).

O ex-funcionário sul-coreano, de 65 anos, foi acusado de roubar as plantas da fábrica e os projetos da Samsung entre 2018 e 2019. A promotoria distrital de Suwon informou que o suspeito tentou estabelecer uma unidade de produção falsa na cidade chinesa de Xian, mas não teve sucesso, já que a multinacional já possui uma fábrica de chips lá.

O homem, cuja identidade não foi revelada, está detido à espera de julgamento. O material roubado é classificado como “tecnologia central nacional” pela Coreia do Sul, uma categoria de tecnologia que, se divulgada no exterior, pode prejudicar a segurança nacional e a economia.

Prédio da Samsung em Kiev, na Ucrânia (Foto: WikiCommons)

O suspeito, que já estava sob custódia há algum tempo, é considerado um “especialista de alto nível em fabricação de semicondutores” com décadas de experiência na indústria. As autoridades sul-coreanas afirmaram que as informações que ele supostamente roubou teriam um valor mínimo de US$ 236 milhões para a Samsung.

Os promotores divulgaram um comunicado na segunda afirmando que esse crime é grave e pode causar um impacto negativo significativo em nossa segurança econômica, abalando os fundamentos da indústria doméstica de semicondutores em um momento em que a competição na produção de chips está se intensificando diariamente.

Segundo os promotores, a indústria de semicondutores representou 16,5% das exportações totais da Coreia do Sul em 2022, sendo considerada um ativo de segurança nacional.

Além disso, outras seis pessoas que trabalharam com o executivo foram indiciadas por suspeita de envolvimento no roubo.

Contatada pela agência AFP nesta terça (13), a Samsung se recusou a fazer comentários.

Indústria vital

Os chips desempenham um papel crucial na economia global atual, e a China, como a segunda maior economia do mundo, depende de um suprimento constante de chips fabricados por empresas estrangeiras para sua indústria de eletrônicos em larga escala.

No ano passado, os Estados Unidos implementaram uma série de controles de exportação para impedir que a China adquirisse chips avançados que poderiam ser utilizados em armamentos de ponta e tecnologias avançadas, como inteligência artificial.

Este ano, Holanda e Japão também impuseram suas próprias restrições, sem mencionar a China. Essas restrições têm provocado indignação em Beijing, que acusa os Estados Unidos de “terrorismo tecnológico”.

No mês passado, a China anunciou que a empresa americana de chips Micron falhou em uma revisão de segurança nacional, orientando os operadores de “infraestrutura crítica de informações” a interromperem a compra de seus produtos.

Por que isso importa?

Uma indústria de US$ 500 bilhões e considerada tecnologia estratégica é uma das mais afetadas pela “guerra fria” entre China e EUA: a produção de semicondutores.

Os complexos componentes são fundamentais na fabricação de computadores e telefones celulares e um dos principais redutos industriais da China no campo da alta tecnologia.

Entretanto, um relatório da consultoria de risco político Eurasia Group, de setembro de 2020, aponta que a China tem vulnerabilidade nesse setor e ainda depende de fábricas em Taiwan para combinar tecnologia de ponta e custos menores na linha de produção.

A aproximação entre os EUA e a ilha reivindicada pela China também envolve a questão dos semicondutores. A TSCM (Companhia de Manufatura de Semicondutores de Taiwan, da sigla em inglês) tem recebido vastos recursos e incentivos para instalar plantas ultrassofisticadas em território norte-americano.

Em paralelo, há pressão de Washington para que as empresas escolham linhas de produção azuis, dos EUA, ou vermelhas, da China. Por isso o papel cada vez mais estratégico da ilha. Mas, caso a China se perceba isolada de componentes vitais para sua produção, há risco de forte reação seguida por impactos nas cadeias globais de produtos, diz o relatório.

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