França diz que campanha online do Azerbaijão encoraja protestos violentos na Nova Caledônia

População local, liderada pela etnia dos Kanak, contesta lei que daria poder de voto a cidadãos franceses na pequena nação insular

A Nova Caledônia, uma pequena colônia francesa no Pacífico, localizada entre a Austrália e Fiji, teve sua capital, Noumea, tomada por protestos nos últimos dias. A população local, liderada pela etnia dos Kanak, contesta um projeto de lei que amplia o direito de voto dos cidadãos franceses. Paris afirma que a violência das manifestações está ligada a uma campanha online do Azerbaijão que inflamou os manifestantes. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Segundo o Serviço de Vigilância e Proteção contra a Interferência Digital Estrangeira da França, Viginum, ligado ao Ministério das Relações Exteriores, foi identificada uma grande campanha de desinformação online liderada pelo Azerbaijão, que acabou aumentando a tensão na pequena nação insular e levou a atos violentos.

Noumea, capital da Nova Caledônia (Foto: eGuide Travel/Flickr)

“Em 15 e 16 de maio de 2024, o Viginum detectou disseminação massiva e coordenada em várias plataformas de conteúdo claramente impreciso ou enganoso, acusando a polícia francesa de disparar contra manifestantes pró-independência”, afirmou a agência.

O resultado é uma onda de violência que, de acordo com autoridades francesas locais e em Paris, deixou cinco pessoas mortas, sendo dois agentes de polícia e três pessoas da etnia Kanak. A agência Reuters noticiou neste sábado (18) que foi confirmada uma sexta vítima fatal, ainda não identificada.

Os protestos começaram após a aprovação de um projeto de lei que dá poder de voto a franceses vivendo há mais de dez anos na Nova Caledônia. Os Kanak contestam a medida dizendo que ela reduziria a força política da população local e aumentaria a influência de Paris.

Devido às condições de segurança, a França impôs estado de emergência e destacou as Forças Armadas para proteger pontos estratégicos, como aeroportos e portos. A medida se estenderá por ao menos 11 dias, com toque de recolher entre 18h e 6h.

O ministro do Interior da França, Gerald Darmanen, alega que o interesse do Azerbaijão pelos protestos estaria ligado a um suposto acordo entre líderes dos manifestantes e o governo azeri, firmado na visita que uma delegação da Nova Caledônia fez a Baku.

O Azerbaijão nega qualquer interferência e disse que a alegação de Paris é “infundada”. Porém, Asim Mollazadeh, um parlamentar azeri que participou do encontro, diz que ouviu reclamações a respeito do tratamento dispensado pelos franceses à população nativa.

“Quase todos os seus direitos são violados. Não é adequado que ninguém viva no século 21 com as ações do século 15”, disse o político, que ofereceu “apoio moral” à população da Nova Caledônia.

Ainda segundo Mollazadeh, os neocaledônios “lutam pela sua liberdade e pelos seus direitos.” E acrescentou: “A história também lembra os crimes cometidos pela França.”

Apesar dos gritos por independência ouvidos nos protestos, em dois referendos, realizados entre 2018 e 2021, os eleitores voltaram contra a ideia, optando por manter a Nova Caledônia ligada à França.

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