Em cúpula com líderes do Pacífico, Biden tenta afastar a influência da China

Washington combate presença de Beijing na região enquanto as nações insulares estão mais preocupadas com as mudanças climáticas

O presidente dos EUA, Joe Biden, recebe lideranças de nações insulares do Pacífico nesta quarta (28) e quinta-feira (29) na Casa Branca. Com as mudanças climáticas na pauta, a cúpula também representa o mais recente empenho do democrata em amarrar as relações com a região, à medida que tenta arrefecer a crescente influência militar e econômica chinesa no Indo-Pacífico. As informações são da agência Associated Press (AP).

Viajaram para os Estados Unidos líderes de Fiji, Ilhas Marshall, Micronésia, Palau, Papua Nova Guiné, Samoa, Tonga, Tuvalu, Ilhas Cook, Polinésia Francesa e Nova Caledônia. Vanuatu e Nauru também enviaram representantes, bem como Austrália e Nova Zelândia.

Uma das presenças que chama a atenção é a das Ilhas Salomão, que tem estreitado laços com a China – mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foram para o mercado chinês.

Biden em foto de julho de 2019: combate à influência da China (Foto: Divulgação/Gage Skidmore)

Mas as maiores desconfianças quanto a essa aproximação não são econômicas. Receios ganharam força no final de março, quando vazou uma carta de intenções indicando que Beijing planejava estabelecer uma base militar dentro da pequena nação insular, o que fez soar o alarme na vizinha Austrália e em seus aliados no Indo-Pacífico. 

Antes do início das atividades desta quarta, porém,, as Ilhas Salomão anunciaram que não endossariam uma declaração conjunta que a administração Biden planeja revelar, segundo o jornal The Washington Post. O país enviou uma nota diplomática a outras nações da região, na qual declarou que “não havia consenso sobre as questões” e que precisava de “tempo para refletir” sobre a declaração.

O veículo também observa que Beijing ampliou os laços diplomáticos e a ajuda financeira às ilhas do Pacífico nos últimos anos, ao mesmo tempo em que impulsionou acordos de segurança que poderiam aumentar sua presença militar “em uma região cujas principais rotas de navegação e recursos naturais a tornam estrategicamente valiosa”.

Aproximação

Na abertura das atividades, o enviado climático dos EUA, John Kerry, articulou uma mesa redonda sobre o clima com as lideranças presentes. Mais tarde, estava previsto um jantar oferecido pela Guarda Costeira dos EUA, com a presença do conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.

Mas o prato principal deve ser servido na quinta, quando Biden se encontra pessoalmente com os líderes no Departamento de Estado e mais tarde os recebe para um jantar na Casa Branca. Quem também tem agenda com as lideranças e enviados é a presidente da Câmara Nancy Pelosi, além da secretária de Comércio Gina Raimondo e de líderes empresariais dos EUA.

Entre as pautas, além da questão climática, estarão a pandemia de Covid-19 e a recuperação econômica, segurança marítima, proteção ambiental e, claro, o Indo-Pacífico.

No entanto, apesar da demonstração de interesse e comprometimento de Biden com a região, há um ceticismo no ar quanto à longevidade do engajamento de Washington com as ilhas do Pacífico. Isso porque, segundo especialistas, a região teve pouca atenção dos EUA desde o fim da Guerra Fria.

Antes da cúpula, os líderes do Pacífico manifestaram o desejo de aumentar a assistência dos EUA no enfrentamento aos impactos das mudanças climáticas. O pacote de interesses também incluem ajuda às economias locais no contexto de pós-pandemia, segundo relatou um alto funcionário governamental.

O governo Biden tem buscado maior presença na região nos últimos meses. Em fevereiro, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, se tornou o primeiro secretário de Estado dos EUA a visitar Fiji em quase quatro décadas. 

De lá para cá, os EUA, juntamente com Austrália, Japão, Nova Zelândia e Reino Unido, lançaram um grupo informal destinado a aumentar os laços econômicos e diplomáticos com as nações das ilhas do Pacífico apelidados de “Parceiros do Pacífico Azul”.

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