Macron insere a França na disputa China-EUA e denuncia ‘imperialismo’ no Pacífico

Presidente fala em defender "a independência e a soberania" de países insulares e se põe como alternativa a Washington e Beijing

Nesta semana, o presidente da França, Emmanuel Macron, cumpre agenda em três nações do Pacífico Sul. Trata-se do primeiro líder francês a visitar Estados independentes da região, com passagem inicial por Nova Caledônia, que ainda é um território francês. Na segunda parada, em Vanuatu, ele refletiu sobre o histórico colonialista de seu país e denunciou o “novo imperialismo” no Pacífico, onde EUA e China travam atualmente uma disputa por influência. As informações são da rede France 24.

“Há no Indo-Pacífico, particularmente na Oceania, um novo imperialismo surgindo e uma lógica de poder que ameaça a soberania de vários Estados, os menores, muitas vezes os mais frágeis”, disse o presidente francês em discurso, colocando o país dele como uma alternativa a norte-americanos e chineses. “Nossa estratégia para o Indo-Pacífico é, acima de tudo, defender, por meio de parcerias, a independência e a soberania de todos os Estados da região que estão prontos para trabalhar conosco.”

O presidente francês, Emmanuel Macron (Foto: WikiCommons)

As pequenas nações insulares do Pacífico Sul são o mais recente ponto de tensão na rivalidade entre Washington e Beijing. Os chineses enxergam as ilhas da região como uma oportunidade de avanço para suas operações militares, e no ano passado o presidente Xi Jinping propôs um pacto de segurança a dez países da região. Somente um deles, a Micronésia, manifestou oposição. Um acordo do gênero já foi firmado, com as Ilhas Salomão.

Se bem-sucedida, a China aumentaria muito seu alcance militar, um avanço capaz de intimidar aliados dos EUA, como Austrália e Nova Zelândia. O governo Biden, preocupado, recebeu em setembro de 2022 líderes das Ilhas do Pacífico para uma cúpula inédita, que resultou em um compromisso americano de gastar mais de US$ 800 milhões em projetos de infraestrutura na região.

A França é o mais novo ator no palco da disputa. Durante a visita, Macron lembrou o histórico da França em Vanuatu, traçando assim um paralelo com o que, na visão dele, seriam as intenções de norte-americanos e chineses.

“Reconhecemos nosso passado colonial aqui em Vanuatu”, disse o presidente francês, destacando a “apropriação de riqueza e exploração do povo” no período em que a ilha foi uma colônia britânico-francesa, até a independência em 1980.

Ele, inclusive, fez uma referência velada a Beijing, segundo a rede Euronews, ao criticar os “numerosos empréstimos com condições leoninas” que “estrangulam literalmente” os países mais frágeis. Não é preciso ir longe para notar a relação com os acordos comerciais firmados pela China com países do Pacíficos, que acompanham os acordos de segurança e focam em obras de infraestrutura.

Um tema de especial interesse das nações insulares, devidamente citado por Macron, é o das mudanças climáticas. Diante da perspectiva de um aumento médio da temperatura do planeta superior a 1,5º C, especialistas sugerem que certas nações podem desaparecer, consequência do aumento do nível do mar resultante do aquecimento global.

“França e Vanuatu reiteram que a primeira urgência para reduzir os danos causados ​​pela mudança climática é acelerar a eliminação gradual dos combustíveis fósseis”, diz um comunicado conjunto assinado pelos dois países durante a visita.

Após as passagens por Nova Caledônia e Vanuatu, Macron ainda faz uma parada final em Papua Nova Guiné.

Tags: