Hong Kong tem se consolidado como um refúgio para empresas que buscam driblar sanções impostas pelos Estados Unidos e outros países ocidentais. Entre os casos mais recentes está o da VPower Finance Security Ltd., retirada da lista de empresas licenciadas pelo governo local após ser acusada de prestar serviços à Rússia, mas cuja operação foi praticamente transferida para a startup Horsemart Services Ltd.. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).
A VPower foi sancionada em junho de 2024 por fornecer escolta armada para transporte de ouro à Rússia. Pouco depois, a recém-criada Horsemart, fundada em 2022, recebeu uma licença de categoria 2 para atuar no mesmo segmento, apesar de ter um capital registrado de apenas 11 mil dólares de Hong Kong (R$ 8,6 mil). A startup assumiu contratos anteriormente geridos pela VPower, como a segurança de um depósito de explosivos na Ilha de Lantau, avaliado em 40 milhões de dólares de Hong Kong (R$ 31,3 milhões).
Registros públicos revelam conexões preocupantes entre as duas empresas. Wang Jiang, diretor da Horsemart, também aparece como membro de filiais da matriz da VPower na China continental. Além disso, a frota de veículos blindados da nova empresa apresenta um design muito semelhante ao da companhia sancionada, indicando uma continuidade operacional.

“É difícil entender como uma startup conseguiu obter essa licença em tão pouco tempo, já que o processo normalmente leva mais de um ano e exige altos padrões de capital e estrutura”, afirmou um especialista da indústria, que preferiu não ser identificado.
Apesar disso, as autoridades de Hong Kong não demonstram preocupação. Em resposta às investigações, o Departamento de Segurança do território afirmou que “não comenta casos específicos de empresas de segurança”.
Críticas internacionais
A postura de Hong Kong tem atraído críticas globais, especialmente da Otan (Organização do tratado do Atlântico Norte), que já classificou a China como uma “habilitadora decisiva” para Vladimir Putin.
O pesquisador Sunny Cheung, da Fundação Jamestown, afirmou que o governo de Hong Kong está diretamente alinhado aos interesses de Beijing. “Eles sabem exatamente o que está acontecendo e utilizam Hong Kong como uma base estratégica para alcançar seus objetivos, driblando sanções internacionais”, disse.
A cidade, historicamente conhecida como um porto livre, tem se tornado um ponto estratégico para empresas sancionadas. Casos anteriores, como o da linha marítima iraniana IRISL, mostraram que Hong Kong é amplamente utilizada por companhias que buscam evitar restrições impostas por países ocidentais.
Com contratos milionários e uma rede de conexões que desafia sanções, o caso da VPower e Horsemart ilustra como Hong Kong é usada para sustentar operações que beneficiam interesses russos e chineses. A crescente reputação do território como refúgio para práticas questionáveis coloca em xeque seu comprometimento com normas e valores internacionais.
“O governo de Hong Kong está completamente ligado aos interesses do governo chinês. Eles entendem completamente que [a China] quer usar Hong Kong como um porto seguro ou um porto livre para atingir seus objetivos”, disse Cheung. “Não creio que o governo de Hong Kong desconheça isso. Ele alega que não permitirá que a Rússia o use para trânsito, mas não tem intenção de resolver o problema.”