Ilhas Salomão rejeitam oferta da Austrália para financiar as eleições

Honiara classifica a oferta como "inapropriada", enquanto o país debate o adiamento do pleito para 2024

Nesta terça-feira (6), as Ilhas Salomão rejeitaram a proposta da Austrália para financiar as eleições de 2023. A oferta foi classificada como “inapropriada” por Honiara, que acusou o país vizinho de interferir em assuntos internos. As informações são da agência catari Al Jazeera.

O primeiro ministro Manasseh Sogavare tem planos de adiar a eleição até 2024, sob o argumento de que o país não consegue pagar pela votação e pelos Jogos do Pacífico, dos quais será sede, no mesmo ano. O projeto de lei que implementaria tal mudança deve ser votado na próxima quinta-feira (8).

“O momento do anúncio da mídia pública pelo governo australiano é, na verdade, uma estratégia para influenciar como os membros do parlamento votarão neste projeto de lei”, disse Sogavare.

O governo das Ilhas de Salomão ficou contrariado com a proposta da Austrália pois ainda debatia qual resposta daria aos vizinhos quando o Ministério das Relações Exteriores australiano fez o anúncio à mídia local, dizendo que a oferta reflete o “compromisso histórico e de longa data” com a democracia no Pacífico.

O primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare (Foto: Flickr)
Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China.

Com população de cerca de 700 mil pessoas, a nação insular fica localizada em território estratégico, bem no centro de um cabo de guerra geopolítico. O país tem se aproximado de Beijing desde 2019, quando mudou o reconhecimento diplomático de Taiwan para a China, sublinhando a crescente influência chinesa em uma região que era tradicionalmente dominada por EUA e Austrália.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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