Índia encomenda sistema de defesa antiaérea para usar na fronteira com a China

Ministério da Defesa cita a crescente tensão entre os países e destaca a necessidade de "sistemas eficazes" para área de fronteira

O governo da Índia encaminhou a aquisição de um novo sistema móvel de defesa antiaérea que será utilizado ao longo de sua fronteira com a China, que nos últimos anos foi palco de confrontos entre soldados dos dois países. As informações são do jornal Taipei Times.

Um conselho chefiado pelo ministro da Defesa indiano Rajnath Singh permitiu a aquisição do sistema, que foi projetado por uma empresa indiana, tem alcance curto e pode ser transportado pelas próprias tropas.

Desenvolvido pela organização de pesquisa DRDO, o sistema é projetado para conter ameaças aéreas de baixa altitude e é semelhante ao norte-americano Stinger, muito usado pelas forças armadas da Ucrânia na guerra contra a Rússia.

“Em vista dos recentes desenvolvimentos ao longo das fronteiras do norte, é necessário focar em sistemas eficazes de armas de defesa aérea que sejam portáteis e possam ser implantados rapidamente em terrenos acidentados”, diz comunicado do Ministério da Defesa da Índia.

Os vizinhos compartilham uma fronteira não delimitada oficialmente de 3,5 mil quilômetros através do Himalaia e mantêm um acordo de paz instável desde o fim da guerra sino-indiana, em novembro de 1962. Em setembro de 2022, Nova Délhi e Beijing anunciaram a retirada das tropas posicionadas na região, amenizando um clima de tensão que vinha crescendo desde maio.

Porém, mesmo após dezenas de rodadas de negociações militares de alto nível, os dois países mais populosos da Ásia permanecem em um impasse diplomático, e a paz não foi efetivamente alcançada. A Índia se recusa a normalizar relações com Beijing, a menos que os vizinhos diminuam sua presença militar na fronteira.

Tenente-coronel do Exército indiano Sabath Kumar fala com soldados e fuzileiros navais indianos, 20 de novembro de 2019 (Foto: Wikimedia Commons)

Diante desse cenário, forças indianas e chinesas voltaram a se enfrentar no início de dezembro do ano passado, na região disputada entre os dois países no Himalaia, a chamada Linha de Controle Atual (LAC, na sigla em inglês), fronteira de fato entre as nações. Foi o primeiro incidente por lá em quase dois anos.

Na ocasião, o Ministério da Defesa da Índia emitiu um comunicado dizendo que soldados de ambos os lados sofreram ferimentos leves no confronto, que ocorreu no território de Arunachal Pradesh, no nordeste da Índia, uma região remota e inóspita na fronteira com o sul da China.

Não há informações precisas sobre o que desencadeou o confronto, mas tanto as forças da Índia quanto da China normalmente patrulham a fronteira fazendo uso de armas leves, de forma a reduzir os potenciais riscos de uma escalada.

Por que isso importa?

O conflito fronteiriço entre os dois países começou com a guerra entre a China e a Índia em 1962. Então, no final dos anos 1980, o primeiro-ministro indiano à época, Rajiv Gandhi, buscou reestabelecer os laços com Beijing.

Dali em diante, a fronteira se manteve calma, com os dois países concordando em adotar diretrizes de administração da região. Em 1993, um acordo de paz foi assinado, e outras medidas de confiança foram firmadas em 1996 e 2006.

Entretanto, com os anos, as tensões ressurgiram após medidas diplomáticas das autoridades indianas, como o apoio ao Tibete, os crescentes laços de defesas com EUAJapão e Austrália e restrições ao investimento chinês na Índia.

No sentido oposto, as relações mais estreitas da China com o Paquistão, que tem disputas de longa data com a Índia, como a questão da Caxemira, e com o Nepal desagradaram Nova Délhi.

A relação atingiu seu pior momento em abril de 2020, quando soldados chineses e indianos se envolveram em combates em vários pontos da área montanhosa que divide os dois países. O problema começou com uma troca de acusações sobre desrespeito à Linha de Controle Real.

Então, em 15 de junho de 2020, a paz foi definitivamente quebrada e houve confronto entre as tropas em Ladakh. Na ocasião, 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em combates corporais que envolveram basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado.

Desde então, milhares de soldados estavam posicionados dos dois lados da fronteira, e obras com fins militares tornaram-se habituais na região. As nações reivindicam vastas áreas do território alheio no Himalaia, problema que vem desde a demarcação de áreas pelos governantes coloniais britânicos.

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