Índia e China retomam disputa por fronteira no Himalaia

Questão teve início na guerra de 1962; no início de maio, soldados dos dois lados se envolveram em confrontos

A Índia e a China entraram em acordo por uma solução pacífica para o conflito na fronteira entre os dois países neste sexta (5), segundo a agência de notícias Reuters.

Desde o início de maio, Índia e China estão em conflito nas regiões de Ladakh e Sikkim do norte, na fronteira entre os dois países no Himalaia – a chamada Linha de Controle Atual.

Em vídeos divulgados nas redes sociais, é possível ver soldados de ambos os países envolvidos em confrontos físicos e com pedras, de acordo com a Al-Jazeera. No total, 11 homens teriam ficado feridos. Vários outros episódios de conflitos verbais foram registrados desde então.

Ambos os lados afirmam estar lidando com o assunto de maneira diplomática e pacífica. A Índia negou uma oferta de ajuda do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para mediar o assunto.

O Ministério das Relações Exteriores da Índia já alegou que a China tem dificultado as patrulhas indianas ao longo da fronteira. Segundo informações da agência de notícias Reuters, a China teria entre 80 e 100 tendas de soldados, enquanto os indianos teriam 60.

Desde 2017, com o impasse de Doklam, confrontos na fronteira não desencadeavam tensões como as vistas atualmente. À época, o problema começou após os indianos impedirem o exército chinês de construir uma estrada na região, reivindicada pelo Butão, aliado indiano.

Índia e China retomam disputa por fronteira no Himalaia
Região de Ladakh é alvo de disputa entre Índia e China (Foto: Bernard Gagnon/Wikimedia Commons)

Histórico

O conflito fronteiriço entre os dois países começou com a guerra entre a China e a Índia em 1962. No final dos anos 80, o então primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi, buscou reestabelecer os laços com Beijing.

Desde então, a fronteira se manteve calma, com os dois países concordando em adotar diretrizes de administração da região. Em 1993, um acordo de paz foi assinado. Outras medidas de confiança foram assinadas em 1996 e 2006.

As tensões entre os dois países voltaram a aumentar após medidas tomadas pelas autoridades indianas, como o apoio ao Tibete, os crescentes laços de defesas com EUA, Japão e Austrália, e restrições de investimentos chineses na Índia.

Por outro lado, as relações mais estreitas entre China e Paquistão — que tem disputas de longa data com a Índia, como a questão da Caxemira — e Nepal também não agradam Nova Délhi.

Tensão recente

A imprensa especula que as razões por trás do último impasse podem estar relacionadas às recentes atividades de infraestrutura realizadas pela Índia perto da Linha de Controle Atual.

Nos últimos dez anos, os indianos tentam impulsionar a infraestrutura fronteiriça, com novas estradas e bases aéreas inauguradas em áreas remotas do Himalaia.

Segundo a Al-jazeera, especialistas temem que as tensões aumentem, já que a China teria movido equipamentos para o lado indiano da fronteira. O temor é de qualquer nova tensão resulte em um “combate total”.

Nepal

A Índia busca ainda se desvencilhar da influência chinesa em outra disputa, dessa vez envolvendo o Nepal. No dia 8 de maio, gerou mal-estar a inauguração pela Índia de uma rodovia no Himalaia que passa pela área disputada com o governo nepalês.

Na sequência, o governo nepalês publicou um novo mapa político que inclui territórios fronteiriços disputados com a Índia. Foram incluídas regiões como Lipulekh, Kalapani e Limpiyadhura, reforçando o posicionamento nepalês diante do litígio. A Índia rejeita a mudança, que considera ser unilateral.

O conflito começou em novembro de 2019, quando os indianos lançaram um mapa político com a região de Kalapani em seu território. O Nepal tentou contato com as autoridades do país vizinho para discutir a questão, sem sucesso.

Desde então, autoridades dos dois países vem trocando farpas sobre a influência chinesa e até sobre o novo coronavírus, piorando a relação diplomática entre Índia e Nepal.

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