Indiretamente, Beijing financia rebeldes que prejudicam a própria economia chinesa

Petróleo iraniano comprado pela China é uma fonte de renda direcionada aos Houthis, que inclusive atacaram um navio chinês

No último sábado (22), um míssil disparado pelos Houthis causou pequenos danos ao navio MV Huang Pu, de bandeira panamenha e pertencente a uma empresa da China. Segundo agências de inteligência ocidentais citadas pelo site Politico, em parte a culpa pelo ataque recai sobre o próprio governo chinês, que involuntariamente ajuda a financiar os rebeldes iemenitas que realizaram o ataque e que assim têm causado problemas à economia de Beijing.

A China é responsável por comprar 90% do petróleo vendido pelo Irã, que está sob sanção da ONU (organização das Nações Unidas) e dos EUA em represália contra o programa de armas nucleares do país. Parte desse combustível é fornecido pela Força Quds, o braço de operações no exterior do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã. E é justamente essa unidade que treina os Houthis.

Petroleiro iraniano na Venezuela: dinheiro financia os Houthis do Iêmen (Foto: Nicolás Maduro/Twitter)

Com drones e mísseis, os Houthis têm atacado navios comerciais no Mar vermelho desde novembro, sob o argumento de que eles servem a Israel. Seria uma forma de manifestar apoio aos palestinos de Gaza durante no conflito entre o Estado judeu e o Hamas.

Atualmente, porém, mesmo navios sem relação com Israel têm sido atacados. Até um navio que  carregava milho brasileiro rumo ao Irã, país que apoia os Houthis, foi alvo em fevereiro. O MV Star Iris foi atacado por dois mísseis, que causaram pequenos danos, sem registro de pessoas feridas.

Até então, chineses e russos pareciam livres da ameaça. Segundo a rede Bloomberg, os Houthis haviam prometido passagem segura aos navios desses países em troca de apoio político, com ambos agindo, por exemplo, para bloquear resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O cenário mudou com o ataque ao MV Huang Pu, reportado pelo Comando Central (Centcom, na sigla em inglês) das Forças Armadas dos EUA. “Nenhuma vítima foi relatada e a embarcação retomou seu curso. Os Houthis atacaram o MV Huang, apesar de terem afirmado anteriormente que não atacariam navios chineses”, disse a unidade militar em postagem na rede social X, antigo Twitter.

Os EUA e o Reino Unido conduziram uma série de ataques aéreos contra os Houthis em retaliação, mas a ofensiva rebelde permanece. Como resultado, o frete ficou mais caro, gerando a expectativa de que a economia global seja afetada. Pela região passa cerca de 15% do comércio global, e a China sofre o impacto, sobretudo seu forte setor exportador.

Com as empresas de carga mudando a rota para fugir do Mar Vermelho, o custo do transporte não fica necessariamente mais alto, pois elas evitam os elevados custos de operação no Canal de Suez. Mas o transporte em torno do Canal da Boa Esperança, na África, leva 14 dias a mais. Para Beijing, isso é um problema.

“O principal efeito é o maior tempo no mar”, disse Julian Hinz, analista de política comercial do Instituto Kiel. “É muito importante para a China que as rotas comerciais globais funcionem sem interrupção.”

Uma autoridade de inteligência ouvida pela reportagem foi mais incisiva e afirmou que “o primeiro país prejudicado” pelos ataques dos Houthis “é a própria China”. E acrescentou: “Não tenho certeza se eles estão cientes de que estão cortando o galho em que estão sentados.”

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