Jornalista e ativista do #MeToo na China ‘demite’ advogado e gera suspeitas de coação

Sophia Huang impulsionou na China movimento global que denuncia casos de agressão sexual. Ela está presa e incomunicável há um ano

Um ano após ser presa sob acusação de “subversão”, período em que permaneceu incomunicável, a ativista feminista e jornalista chinesa Sophia Huang demitiu seu advogado de defesa. Tal comportamento levantou suspeita de coação por parte autoridades locais, segundo a análise de grupos de direitos humanos que monitoram o caso, sugerindo que ela estaria sendo pressionada para se declarar culpada e “confessar” as acusações. As informações são da rede Radio Free Asia.

“A situação atual de Huang no centro de detenção permanece desconhecida”, disse a campanha Free Huang Xueqin e Wang Jianbing em comunicado publicado na plataforma Github.

Com seu trabalho jornalístico, que analisou casos de assédio sexual e agressão a mulheres chinesas que trabalham na mídia local, Sophia se transformou em 2018 em uma figura importante na China do movimento #MeToo, surgido nos Estados Unidos para denunciar abusos cometidos por homens em cargos de poder, muitos deles celebridades.

Sophia Huang em 2018, ano em que impulsionou #MeToo na China (Foto: Twitter/Reprodução)

No dia 19 de setembro de 2021, Sophia, juntamente do ativista dos direitos trabalhistas Wang Jianbing, sumiu enquanto se dirigia ao aeroporto da cidade chinesa de Guangzhou. A jornalista estava prestes a embarcar para o Reino Unido, onde estudaria na Universidade de Sussex com uma bolsa de estudos custeada pelo governo britânico.

Segundo a nota da campanha Free Huang and Wang, apesar de a família da jornalista ter contratado o advogado Wan Miaoyan para defendê-la, a polícia apresentou uma carta alegadamente assinada por Sophia que encerrava a representação legal.

Wan, que tentou visitar a cliente na cadeia, teve o pedido negado sob a justificativa de protocolos sanitários de prevenção ao coronavírus. Um defensor público foi designado para atender às demandas da jornalista.

“Huang tem sido representada por um advogado nomeado pelo governo desde então”, disse a campanha. Ela segue impossibilitada de ter contato externo, ou seja, nem familiares nem amigos sabem da sua condição dentro do centro de detenção.

Violação do direito internacional

A rede de Defensores dos Direitos Humanos da China (CHRD, da sigla em inglês) sediada no exterior pediu, juntamente com dezenas de outros grupos de direitos humanos, que os direitos de Huang e Wang sejam garantidos no cárcere.

“Estamos profundamente preocupados com a saúde física e mental [de Huang] e reiteramos que a detenção incomunicável é uma grave violação do direito internacional”, afirmou.

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