Jornalista que relatou a Covid-19 revela seu paradeiro, mas segue com a liberdade restrita

Zhang Zhan publicou um vídeo dizendo que foi levada à casa do irmão, mas ativistas dizem que Beijing ainda impõe restrições

Mais de uma semana após a data prevista para sua libertação, a jornalista Zhang Zhan finalmente revelou seu paradeiro. Em vídeo publicado nas redes sociais, ela afirmou que está na casa do irmão, para onde teria sido levada pelas autoridades. Ela cumpriu pena de quatro anos por ter noticiado o início do surto de Covid-19 na China. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

“Olá a todos, é Zhang Zhan”, diz ela no início da gravação, que foi traduzida pela reportagem. “A polícia me trouxe de volta à casa do meu irmão em Xangai às 5h da manhã do dia 13 de maio”, acrescentou, citando a data em que a pena foi encerrada. “Obrigada a todos pela ajuda e cuidado. Espero que vocês estejam bem. Eu realmente não sei mais o que dizer”, conclui.

O vídeo foi republicado na rede social X, antigo Twitter, pela ativista Jane Wang, que comanda um grupo de apoio que pedia a libertação da jornalista, o Free Zhang Zhan (Zhang Zhan Livre, em tradução literal). No entanto, ela afirmou que a soltura não significa liberdade.

“Hoje, finalmente, recebemos a confirmação de que Zhang Zhan foi libertada da prisão”, diz Wang na postagem que contém o vídeo. “No entanto, ela só tem liberdade limitada.” Ainda segundo a ativista, Zhang teria dito a um amigo que “não é muito livre” e que teme uma ação da polícia para confiscar seu telefone.

A ONG Repórteres Sem Fronteiras, que também fez campanha pela libertação da jornalista e posteriormente cobrou informações sobre o paradeiro dela, fez avaliação semelhante. “Zhang Zhan ainda está sob estrita supervisão do governo chinês. Depois de quatro anos presa, fragilizada por uma greve de fome extremamente debilitante, a jornalista ainda não está livre. Ainda exigimos: #ZhangZhanLivre.”

Wang ressaltou que não é possível afirmar onde a jornalista estava ao gravar o vídeo e avalia que ela conseguiu recuperar parte do peso que havia perdido no cárcere, onde fez uma greve de fome para protestar contra a condenação.

Por fim, exaltou a ação global em favor da jornalista nos últimos dias. “O fato de Zhang Zhan ter finalmente conseguido ‘ressurgir’ após nove dias de desaparecimento prova que o governo chinês responde à pressão da sociedade internacional.”

Quem é Zhang Zhan

Zhang criticou Beijing logo no início da pandemia e foi detida na cidade de Xangai em maio de 2020, sendo posteriormente condenada a quatro anos de prisão. Ela foi formalmente acusada e julgada por “criar contendas e provocar problemas” devido a um vídeo no qual criticava o governo chinês pela forma como tratou o surgimento da pandemia.

Para protestar contra a detenção, ela iniciou uma greve de fome alternativa, consumindo quantidades reduzidas de alimento em vez de recusar tudo que lhe era oferecido. Assim, evitou que o governo impusesse uma alimentação por sonda. Zhang adoeceu e foi diagnosticada com problemas digestivos ligados à desnutrição, gerando uma campanha internacional para que fosse libertada.

Zhang Zhan, libertada após quatro anos de prisão por reportar o início da Covid-19 (Foto: reprodução/X)

Durante o período de cárcere, mesmo a família teve contato reduzido com a jornalista, embora eventualmente tivesse autorização para visitá-la. No ano passado, a RFA relatou que a mãe dela disse a um ativista que a filha estava “quase pele e osso”, pesando 37 kg, cerca de metade do peso ideal.

Em dezembro de 2022, quando foi julgada, ela compareceu ao tribunal em uma cadeira de rodas devido aos problemas de saúde. Na ocasião, declarou-se inocente, o que habitualmente leva a uma pena mais dura. Acusados que se dizem culpados costumam receber uma punição mais branda.

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