Presa por criticar o governo da China, jornalista é internada após anos em greve de fome

Zhang Zhan, que se alimenta muito pouco como forma de protestar contra Beijing, tem problemas digestivos ligados à desnutrição

A jornalista Zhang Zhan, que cumpre pena em uma prisão chinesa por ter criticado a abordagem do governo ao surto de Covid-19 na China, está internada devido a problemas decorrentes de uma longa greve de fome. As informações são da rede Radio Free Asia (FA).

Zhang criticou Beijing logo no início da pandemia e foi detida na cidade de Xangai em maio de 2020, sendo posteriormente condenada a quatro anos de prisão. Ao justificarem a condenação, autoridades chinesas disseram que a jornalista “criou contendas e provocou problemas” ao publicar um vídeo criticando a forma como o governo chinês tratou o surgimento da pandemia.

Para protestar contra a detenção, ela iniciou uma greve de fome alternativa, consumindo quantidades reduzidas de alimento em vez de recusar tudo que lhe é oferecido. Assim, evita que o governo imponha a ela uma alimentação por sonda.

A jornalista chinesa Zhang Zhan foi condenada a quatro anos de prisão (Reproduão/YouTube)

“A saúde física de Zhang Zhan está muito debilitada porque ela se recusa a comer há muito tempo”, disse Wang Jianhong, fundador de uma entidade que faz militância pela libertação da jornalista, o Zhang Zhan Concern Group. “Esta greve de semi-fome já dura mais de dois anos.”

Zhang foi internada no hospital da Prisão Feminina de Xangai sob o diagnóstico de doenças digestivas ligadas à desnutrição, segundo informações fornecidas por ativistas de direitos humanos que acompanham o caso. A libertação dela está prevista para maio de 2024.

“A situação não parece estar melhorando, e ela ainda tem mais de oito meses de pena para cumprir”, disse Wang. “Se as autoridades não oferecerem tratamento humanitário e suplementos nutricionais, ela não sobreviverá à sentença.”

Mesmo a família tem contato reduzido com a jornalista, embora eventualmente tenha autorização para visitá-la. A mãe teria dito a um ativista que a filha está “quase pele e osso”, pesando 37 kg, cerca de metade do peso ideal.

Em dezembro de 2022, quando foi julgada, ela compareceu ao tribunal em uma cadeira de rodas devido aos problemas de saúde. Na ocasião, declarou-se inocente, o que habitualmente leva a uma pena mais dura. Acusados que se dizem culpados costumam receber uma punição mais branda.

Li Dawei, um ativista de direitos humanos chinês, diz que a jornalista não admite abandonar a greve de fome, mesmo com a vida em risco. “Ela usa isto como uma forma de reagir e mostrar a sua inocência, o seu julgamento e detenção pelas autoridades foram injustos”, disse ele. “Sua mentalidade é a de uma prisioneira política exibindo resistência.”

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