Livro de Piketty é censurado na China por menções à desigualdade no país

Na obra, autor define como "paradoxo" país comunista no papel mas cada vez mais tolerante com o abismo social

Mesmo após o sucesso do best-seller de 2013 “O Capital no Século 21” na China, o livro mais recente do economista francês Thomas Piketty pode não ser publicado no país. A informação, deste sábado (30), é do jornal “South China Morning Post“.

O volume “Capital e Ideologia” (Intrínseca, 1056 págs., RS$ 64,90) tornou-se alvo de uma queda de braço com a editora Citic Press Group, que pede a remoção de menções à crescente desigualdade econômica no país.

Ao jornal de Hong Kong, Piketty confirmou o pedido da editora. “Eu recusei essas condições, então neste momento parece que ‘Capital e Ideologia’ não será publicado na China”, afirmou.

Livro de Piketty é censurado na China por menções à desigualdade no país
O economista francês Thomas Piketty em evento em livraria próxima à Universidade de Harvard, nos EUA, em abril de 2014 (Foto: Wikimedia Commons

Já a Citic Press Group afirma estar “honrada” de trabalhar com o economista francês. O adiamento da publicação do livro seria por conta de uma negociação de direitos autorais, informou o grupo.

No livro, o autor discute o que o SCMP define como “a tolerância do Partido [Comunista] à crescente desigualdade, a pouca transparência em dados oficiais sobre renda e distribuição da riqueza e o paradoxo entre um sistema político socialista e uma sociedade altamente desigual.”

No país, não há taxação sobre heranças, por exemplo.

A China também não divulga estatísticas sobre a renda da parcela mais rica da população desde 2011. No livro, Piketty se queixa da falta de dados sobre o país. A informações dos chineses são ainda mais escassas que as disponibilizadas pela Rússia, também desigual e pouco transparente.

“Nos encontramos em uma situação altamente paradoxal”, afirma Piketty no livro. Um bilionário asiático que queira passar adiante sua fortuna sem pagar nenhum imposto sobre herança deveria se mudar para a China comunista”.

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