Malásia rejeita mapa de Beijing que reivindica controle total do Mar da China Meridional

Kuala Lumpur rejeitou as reivindicações chinesas de um novo “mapa padrão” que toma para si as áreas marítimas malaias perto da ilha de Bornéu

A Malásia não reconheceu a edição 2023 do mapa oficial da China, que define como parte de seu território a quase totalidade do Mar da China Meridional, abrangendo também áreas próximas à costa do Bornéu malaio. A recusa, manifestada nesta quarta-feira (30), ocorre em meio a crescentes tensões em águas estratégicas disputadas. As informações são da agência Al Jazeera.

A China tem se tornado cada vez mais assertiva em suas reivindicações na região, apesar de um tribunal internacional em 2016 ter decidido que Beijing não tem base legal, invalidando a “linha de nove traços”, substituída pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) de 1982. A reivindicação de soberania sobre a hidrovia não é à toa: é por lá que passam anualmente bilhões de dólares em comércio.

Nos últimos anos, a China tem estabelecido bases militares em formações rochosas avançadas e mobilizado tanto sua guarda costeira quanto milícia marítima. Isso já desencadeou confrontos com outras nações com reivindicações na região, como Filipinas, Vietnã, Brunei e Taiwan, todos disputando a posse do mar.

Sarawak, Mar da China Meridional, Bornéu da Malásia (Foto: WikiCommons)

A Malásia observou que o novo mapa, claramente delineando a “linha de nove traços” da China, destaca as “reivindicações unilaterais” chinesas que se sobrepõem à soberania malaia sobre as regiões de Sabah e Sarawak.

O Ministério das Relações Exteriores da Malásia divulgou uma declaração afirmando que “não reconhece as reivindicações no Mar da China Meridional”, conforme apresentado na edição mais recente do mapa oficial chinês. E acrescentou: “esse mapa não possui qualquer autoridade vinculativa sobre a Malásia.”

Na mesma nota oficial, Kuala Lampur definiu a questão da soberania do Mar da China Meridional como “complexa e sensível”, acrescentando que a resolução carece de diálogo e de consulta, de acordo com o direito internacional, incluindo a CNUDM.

A Malásia também disse que apoia a criação de um “Código de Conduta para o mar”, a respeito do qual as nações do Sudeste Asiático estão atualmente em negociações.

O país do Sudeste Asiático ainda declarou que irá continuará a explorar petróleo e gás ao largo de Bornéu, mesmo diante da “presença e atividades” de navios chineses na sua zona econômica exclusiva (ZEE).

Na terça-feira (29), a Índia já havia expressado seu descontentamento com a China por conta da divulgação do novo mapa, que retira de Nova Délhi regiões que ela afirma ser parte de seu território. Nele, Beijing atribui o Estado indiano de Arunachal Pradesh e o planalto de Aksai Chin como parte integrante do território chinês.

Por que isso importa?

Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas. 

Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, no que classifica como “missões de liberdade de operação”.

Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para patrulhar, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas ​​internacionais e no espaço aéreo.

Segundo Aquilino, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo”.

Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”.

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