Índia protesta contra a China por causa de mapa que reivindica território fronteiriço

Episódio é o mais recente de uma série de tensões entre as nações asiáticas em relação à delimitação de suas fronteiras comuns

Na terça-feira (29), a Índia expressou de maneira enfática seu descontentamento com a China por conta da divulgação de um novo mapa que retira de Nova Délhi regiões que ela afirma serem parte de seu território. O episódio é o mais recente de uma série de tensões entre as nações asiáticas em relação à delimitação de suas fronteiras comuns na chamada Linha de Controle Atual (LAC, na sigla em inglês). As informações são da agência Al Jazeera.

O protesto ocorreu após uma notícia que circulou nos veículos de comunicação indianos de que Beijing havia publicado em sua mídia estatal um “mapa padrão” oficial que considera o Estado indiano de Arunachal Pradesh e o planalto de Aksai Chin como parte do território chinês.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Arindam Bagchi, anunciou que seu país “rejeita as reivindicações da China, pois elas não têm uma base sólida”. Ele também ressaltou que as ações por parte de Beijing estão tornando a resolução da questão de fronteira “ainda mais complexa”.

Vila indiana em Arunachal Pradesh, na fronteira com a China (Foto: WikiCommons)

As autoridades de Nova Délhi afirmam que as duas regiões destacadas em um mapa publicado pelo jornal estatal chinês Global Times estão sob sua soberania. O primeiro desses territórios é o Estado de Arunachal Pradesh, localizado no nordeste da Índia, que a China alega pertencer ao Tibete. Nessa área, houve um conflito fronteiriço de grande magnitude entre os dois países em 1962. A segunda região é Aksai Chin, uma passagem estratégica de elevada altitude que conecta o Tibete ao oeste chinês.

Por sua vez, a China alega que Arunachal Pradesh, no leste do Himalaia, faz parte do sul do Tibete. Em abril, Beijing apresentou um mapa no qual renomeou 11 locais nesse Estado como pertencentes ao “Zangnan”, que significa “sul do Tibete” em chinês. Por outro lado, Aksai Chin, um planalto localizado no oeste do Himalaia, é uma área reivindicada pela Índia, mas atualmente controlada pela China.

Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, refutou categoricamente as reivindicações territoriais da China. Ele destacou de forma incisiva ao canal de notícias NDTV que “fazer alegações infundadas sobre o território da Índia não transforma esse território em parte da China”.

O protesto feito por Nova Délhi em relação ao mapa acontece poucos dias após o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ter tido uma conversa com o presidente chinês, Xi Jinping, durante a cúpula do BRICS em Joanesburgo, na semana passada. Durante esse encontro, Modi expressou suas preocupações referentes à disputada fronteira no Himalaia.

Por que isso importa?

disputa pela fronteira entre China e Índia começou em 1962, em meio à guerra entre os dois países. No final dos anos 80, o então primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi buscou reestabelecer os laços com Beijing.

As tensões voltaram a aumentar após medidas tomadas pelas autoridades indianas, como o apoio às demandas por autonomia do Tibete, a crescente cooperação de defesa com EUA, Japão e Austrália, e restrições de investimentos chineses na Índia.

A relação atingiu seu pior momento em  abril de 2020, quando soldados rivais se envolveram em combates em vários pontos da área montanhosa que divide os dois países. O problema começou com uma troca de acusações sobre desrespeito à Linha de Controle Real.

Então, em 15 de junho de 2020, a paz foi definitivamente quebrada e houve confronto entre soldados indianos e chineses em Ladakh. Na ocasião, 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em combates corporais entre as tropas das duas nações. O confronto envolveu basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado.

Tags: