Morreu na segunda-feira (21), aos 61 anos, um monge que ficou preso a mando do governo da China por mais de duas décadas. Ele foi detido após ter se envolvido na histórica Revolta de Lhasa, uma série de protestos pró-independência que se estenderam no Tibete entre os anos 1980 e 1990. As informações são da rede Radio Free Asia.
Ngawang Gyaltsen foi um dos 21 monges do mosteiro Drepung, que em 1987 saíram às ruas para manifestar apoio ao Dalai Lama e à independência da região. Em consequência de suas ações, o religioso foi condenado por “minar a segurança nacional”. Ele foi mantido em cárcere até 2006, sendo preso novamente anos depois.
Segundo Ngawang Woebar, outro monge que participou do levante, Gyaltsen dedicou a sua vida a lutar contra as políticas repressivas do governo chinês no território conhecido como “Telhado do Mundo“, tendo protestado continuamente contra o regime do Partido Comunista Chinês (PCC) após a rebelião ocorrida há três décadas.

“Ele dedicou sua vida ao Tibete. É muito doloroso ouvir sobre o falecimento de outro preso político. Devemos oferecer nossas orações. Com sua morte, os jovens tibetanos exilados devem reconhecer a coragem, determinação e aspiração de nossos irmãos e irmãs”, disse Woebar.
Após ganhar temporariamente a liberdade, em 2006, Gyaltsen retornou ao mosteiro Shag Rongpo Gaden Dargyaling, localizado no condado de Nagchu, onde havia se matriculado quando criança. Ele era um artista reconhecido na pintura thangka – um tipo de arte originária do Tibete – e prestigiado como um grande conhecedor das danças rituais locais.
Atuando pela mesma comunidade religiosa, Ngawang Gyaltsen foi um personagem de resistência a uma campanha de reeducação imposta por funcionários do governo chinês lá estabelecidos, que exigiam que os monges denunciassem o Dalai Lama e outras importantes figuras budistas tibetanas.
O antagonismo de Gyaltsen o levou a ser forçado pelas autoridades a deixar o mosteiro, bem como resultou em restrições impostas aos movimentos por ele organizados. O monge chegou a ser levado sob custódia pela polícia chinesa novamente em 2015. Mais tarde, foi julgado por acusações desconhecidas e enviado à prisão de Drapchi, em Lhasa, onde cumpriu nova pena de três anos, até a libertação em 2019.
Por que isso importa?
A ocupação chinesa em uma das regiões mais fechadas e politicamente sensíveis do país começou em 1950, quando as tropas do ELP (Exército de Libertação Popular) invadiram o Tibete e assumiram o controle em um episódio que se convencionou chamar de “libertação pacífica”.
Na ocasião histórica, a artilharia esmagou a resistência tibetana, executou os guardas do líder espiritual e destruiu mosteiros de Lhasa. Diante do cenário de destruição, o 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso fugiu para a Índia.