Movimentação em ferrovia sugere que Rússia e Coreia do Norte negociam munição

Imagens de satélite mostram o inexplicável aumento de vagões em um pátio ferroviário norte-coreano próximo à fronteira russa

Imagens de satélite coletadas pela empresa civil norte-americana Planet Labs indicam movimentação intensa em um pátio ferroviário da Coreia do Norte a apenas cinco quilômetros da fronteira com a Rússia. Especialistas consultados pela rede Radio Free Asia (RFA) afirmam que a situação é um indicativo de que os dois países vêm negociando munição.

As fotos mostram que a presença de vagões de trem no local era intensa no dia 22 de setembro deste ano, sendo que apenas oito dias antes o pátio estava vazio. A ocorrência foi registrada apenas uma semana depois da visita do presidente norte-coreano Kim Jong-un a Moscou.

O encontro entre o líder comunista e o homólogo russo Vladimir Putin já havia gerado especulações de que os dois países negociariam a compra e venda de armas ou munição para fortalecer o arsenal russo na guerra contra a Ucrânia.

Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Coreia do Norte, Kim Jong-un: aliados (Foto: kremlin.ru)

Embora Pyongyang e Moscou tenham negado qualquer acordo nesse sentido, manifestaram intenções de fortalecer seus laços militares, incluindo a possibilidade de exercícios conjuntos, discutindo também a ajuda humanitária russa para a nação insular.

Além dos vagões, as imagens permitem observar duas linhas de contêineres ferroviários nos trilhos, sendo uma linha com cerca de 200 metros e outra de aproximadamente 300 metros. São igualmente visíveis nas fotos muitos trens já carregados.

As fotos não permitem afirmar que há armas ou munições sendo carregadas, mas especialistas dizem que é possível fazer tal presunção. Eles baseiam a análise no fortalecimento recente da aliança entre os dois países, na necessidade crescente de Moscou equipar seus soldados e no fato de que os dois presidentes haviam se encontrado poucos dias antes.

“Não se pode descartar que a atividade observada seja o comércio de armas, mas também poderia ser carga mais benigna”, disse Jacob Bogle, analista de imagens de satélite e curador do projeto AccessDPRK. “A Rússia gasta cerca de dez milhões de projéteis de artilharia por ano na Ucrânia, e transferências rápidas por parte da Coreia do Norte ajudariam a aliviar essa escassez.”

Gary Samore, antigo coordenador da Casa Branca para controle de armas e armas de destruição em massa, disse que a Coreia do Norte tem grande estoque de munição para artilharia, tanques e foguetes e poderia enviar material antigo, da era soviética, ao aliado.

“Há décadas que [Pyongyang] fabrica munições para as suas próprias forças militares, especialmente artilharia”, disse Samore. “Se estão enviando munições velhas para a Rússia, do ponto de vista da Rússia, é melhor que não ter nada.”

Por sua vez, Bruce Songhak Chung, investigador do Instituto Coreano de Segurança e Estratégia, explica que o local onde foram feitas as fotos permite afirmar que é Pyongyang quem enviaria a carga, não o contrário. Se os produtos tivessem saído da Rússia rumo à Coreia do Norte, a entrega teria ocorrido na estação fluvial, não no pátio ferroviário.

No final da semana passada, o site Beyond Parallel, gerenciado pelo think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, já havia levantado a suspeita de que os dois aliados estavam negociando equipamento de uso militar.

“Dado que Kim e Putin discutiram alguns intercâmbios e cooperação militar na sua recente cúpula, o aumento dramático no tráfego ferroviário provavelmente indica o fornecimento de armas e munições da Coreia do Norte à Rússia”, diz relatório do think tank.

O Beyond Parallel conclui que, se confirmadas as suspeitas, “as transferências militares entre os dois países violariam múltiplas resoluções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e estariam sujeitas a sanções adicionais por parte dos Estados Unidos e dos seus aliados.”

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