O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, chegou à Rússia nesta terça-feira (12) em um trem blindado para se reunir com o presidente Vladimir Putin. O encontro, o primeiro em anos, ocorre num contexto de necessidade mútua de apoio diante dos desafios apresentados pelo Ocidente: enquanto Kim busca auxílio econômico e tecnológico para acudir um país mergulhado na pobreza, Putin parece interessado em obter equipamento militar para a complicada guerra contra a Ucrânia.
Na visão de analistas ouvidos pela agência Reuters, a aproximação entre os líderes tem o potencial de influenciar a maneira como a Coreia do Norte, um país recluso e desconfiado, irá moldar suas relações com Rússia e China.

De acordo com Artyom Lukin, da Universidade Federal do Extremo Oriente, na Rússia, Pyongyang tem estado amplamente isolada, “sem verdadeiros aliados”. Agora, ela busca parceiros em termos político-militares completos. Embora a China permaneça como o principal aliado e protetor da fechada nação, a Rússia também desempenhará um papel significativo nesse contexto, segundo o acadêmico.
Lukin destaca que, ao contrário da aliança China-Coreia do Norte, na qual Beijing consegue se impor, a aliança Rússia-Coreia do Norte será mais equilibrada, caracterizada por relações de “igual para igual”.
No início de seu governo, Kim manteve relações frias com Beijing e Moscou, devido à adesão de ambos os países às sanções internacionais contra a Coreia do Norte, motivadas pelos programas nucleares e de mísseis.
A partir de 2018, Kim iniciou esforços para melhorar os vínculos, aproveitando as tensões que surgiram entre China, Rússia e os Estados Unidos, bem como outros países.
Embora Pyongyang e Moscou tenham negado qualquer fornecimento de armas da Coreia do Norte para a Rússia, eles expressaram intenções de fortalecer seus laços militares, incluindo a possibilidade de exercícios conjuntos, além de discutirem a ajuda humanitária russa para a nação insular.
Alguns analistas e diplomatas em Beijing levantam a possibilidade de que a China considere a decisão de Kim de visitar a Rússia, sua primeira viagem internacional em anos, como um gesto de desrespeito.
Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha em Seul, diz não se surpreender com a escolha de Kim visitar a Rússia como seu primeiro destino após a pandemia, considerando o interesse dele em explorar a dinâmica geopolítica da “nova Guerra Fria”.
Easley observa que é improvável que Putin compartilhe tecnologia com Kim para miniaturizar dispositivos nucleares ou impulsionar submarinos movidos a energia nuclear, pois mesmo em situações desesperadas, “não é sensato” trocar ativos militares valiosos por munições mais antigas e menos avançadas. Ele também destaca que a confiança entre Rússia, Coreia do Norte e China “é tão baixa” que uma aliança real entre os três países não parece crível nem sustentável.