Muçulmanos se dizem pressionados a deixar suas casas perto de templo hindu

Família têm recebido a visita de oficiais exigindo a assinatura de uma "carta de consentimento" para que terras e imóveis sejam vendidos

Um agressivo processo de despejo ameaça os lares de uma minoria muçulmana no Estado de Utar Pradesh, no norte da Índia. Moradores do entorno do tempo hindu de Gorakhnath estão sendo pressionados a deixar suas casas, de acordo com a emissora Al Jazeera, do Qatar. 

Oficias do governo têm visitado os muçulmanos que moram na região, com o intuito de medir as propriedades e exigir que os proprietários assinem uma “carta de consentimento”. Pelo documento, o signatário concorda em “transferir as terras ou imóveis ao governo”, sob a justificativa de garantir a “segurança do templo”. 

Javaid Akhter, um engenheiro aposentado de 71, mora num imóvel centenário construído pelo avô. Segundo ele, algumas famílias já assinaram os papeis. “Os oficiais nos disseram que, se não assinarmos, existem outras formas de obter nossas assinaturas. Estamos sendo pressionados”, diz. 

Muçulmanos se dizem pressionados a deixar suas casas perto de templo na Índia
Yogi Adityanath e o primeiro-ministro Narendra Modi: aliados políticos (Foto: reprodução/Facebook)

Compensação financeira

Os que concordarem em assinar a carta devem ser obrigados legalmente a deixar suas propriedades, em troca de uma compensação financeira prometida pelo Estado

“Não queremos compensação alguma”, afirma Akhter. “Só queremos continuar a viver aqui, porque é onde nossos pais e avós viveram durante mais de um século”. 

Musheer Ahmed é mais um morador assustado com a ação governamental. “Será que eu assinei minha sentença de morte?”, questiona o homem de 70 anos, que sofre de depressão e hipertensão. “Minha saúde só tem piorado”, reclama ele, que mora em um imóvel de 125 anos também construído por antepassados.  

O governo nega a pressão e diz que todo procedimento tem sido feito dentro da lei. “É uma informação 100% falsa”, disse Vijayendra Pandian, juiz distrital de Gorakhpur. “Nós nem temos capacidade de tirar as terras de alguém sem consentimento. A informação correta está nas mãos do governo. Não existe apropriação forçada nem confissão forçada”, completou.

Questionado sobre qual seria a “informação correta”, ele se negou a responder, de acordo com a Al Jazeera: “Por que eu diria a você?”.

Interesse político 

O Ministro chefe de Utar Pradesh é Yogi Adityanath, que é também o mahant (guru) do templo Gorakhnath. Ele é um forte aliado político do primeiro-ministro Narendra Modi, líder do partido de direita Bharatiya Janata (BJP). 

O tempo foi construído no século XI e está numa região com 220 milhões de habitantes, 20% deles muçulmanos. Utar Pradesh sempre foi foco de tensão religiosa, algo que piorou desde a ascensão do BJP ao poder, em 2014. 

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