Os rebeldes separatistas responsáveis por uma série de ataques que mataram mais de 70 pessoas no Baluchistão no final de semana disseram que seu objetivo é expulsar os investidores chineses que tocam uma série de projetos de infraestrutura na região paquistanesa. As informações são da agência Reuters.
O Exército de Libertação Balúchi (BLA, na sigla em inglês) assumiu a autoria das violentas ações que ocorreram a partir de domingo (25). O grupo alegou que não teve civis como alvo, embora os relatos indiquem que estes são maioria entre as vítimas.
Os projetos chineses contestados pelos separatistas estão ligados ao Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), que por sua vez está inserido na Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative).
“Os terroristas querem impedir o CPEC e os projetos de desenvolvimento”, disse o primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Sharif na terça-feira (27), em um discurso televisionado. Ainda segundo ele, os radicais têm uma meta ainda mais ampla, de criar uma divisão entre Islamabad e Beijing.
Com um orçamento de US$ 60 bilhões, o CPEC foi lançado em 2015 e projeta ligar a cidade portuária de Gwadar, no Baluchistão, a Xinjiang, no noroeste da China, por meio de obras rodoviárias e ferroviárias. O acordo ainda prevê projetos de energia para atender às necessidades de abastecimento do Paquistão.
Os balúchis, entretanto, argumentam que o projeto bilionário de infraestrutura não tem beneficiado a região, enquanto outras províncias paquistanesas colhem os frutos. O caso gera protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores dispostos a extrair as riquezas da região. Já foram registrados inclusive ataques contra cidadãos chineses, com cinco engenheiros mortos em abril deste ano.
A situação é tensa devido à ação de grupos separatistas armados que lutam por maior autonomia política em relação a Islamabad e pelo direito de explorar os vastos recursos da região. Isso gerou desavenças particularmente com a China, sob a acusação de que CPEC estaria sugando as riquezas da região sem melhorar as condições da população local.
A violência ados últimos dias, porém, não parece intimidar Beijing, que não só promete sustentar a aliança com Islamabad, mas até ampliá-la. “A China está pronta para fortalecer ainda mais a cooperação de segurança antiterrorismo com o lado paquistanês para manter em conjunto a paz e a segurança regionais”, disse Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês.
Separatistas e extremistas islâmicos
O Baluchistão se estende por três países, Paquistão, Irã e Afeganistão. É uma região árida, montanhosa e rica em recursos minerais, cujo nome vem dos balúchis, um povo muçulmano essencialmente sunita originalmente iraniano que habita a área.
A porção paquistanesa é a mais extensa e tem sido palco de muita violência nos últimos anos. Grupos separatistas que atuam na região entraram em conflito com o governo do Paquistão, o que gerou milhares de mortes desde 2004. Organizações extremistas islâmicas, caso do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popular Taleban do Paquistão, ajudam a aumentar a tensão.
O principal grupo radical atuante no Baluchistão é o BLA, que em 2019 foi inserido pelos EUA na lista de grupos terroristas internacionais. A Frente de Libertação do Baluchistão (BLF, na sigla em inglês) é outra organização de forte presença na região.