Shigeru Ishiba, que assumiu o cargo de primeiro-ministro do Japão na terça-feira (1º), surpreendeu a muitos ao sugerir a criação de uma Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) asiática. A controversa proposta, que visa enfrentar as crescentes ameaças resultantes da cooperação militar entre China, Rússia e Coreia do Norte, não entusiasmou aliados. As informações são da Newsweek.
O plano de reforçar a segurança na Ásia é visto com ceticismo. Na quarta-feira (2), os ministros das Relações Exteriores e da Defesa do Japão afirmaram que não estão desenvolvendo uma proposta de Ishiba para criar uma “Otan asiática”, uma vez que os EUA e a Índia rejeitaram a ideia, segundo a Reuters.
O ministro das Relações Exteriores do Japão, Takeshi Iwaya, afirmou em uma coletiva de imprensa em Tóquio que considera a ideia de um mecanismo de defesa mútua na Ásia como uma proposta para o futuro, mas reconhece que é difícil implementá-la imediatamente. Já o chefe da pasta de Defesa, Gen Nakatani, em sua primeira coletiva de imprensa após ser nomeado por Ishiba, disse que “em suas instruções, o primeiro-ministro não mencionou nada sobre considerar uma versão asiática da Otan”.
Na última sexta-feira (27), Ishiba, líder eleito do Partido Liberal Democrata, apresentou seu plano em um artigo para o think tank Hudson Institute, sediado em Washington. No texto, ele defendeu que as mudanças propostas impediriam a China de recorrer à força militar na Ásia.
Ishiba afirmou: “A Ucrânia de hoje é a Ásia de amanhã”, traçando paralelos entre as ações da China e da Rússia, além de comparar Taiwan à Ucrânia. Para ele, a “falta de um sistema de autodefesa coletiva, como a Otan, na Ásia implica que guerras provavelmente ocorrerão, pois não há uma obrigação de defesa mútua”.
Entretanto, a proposta de uma Otan asiática já foi rejeitada por Washington, com Daniel Kritenbrink, secretário de Estado adjunto para o Leste Asiático e Pacífico, descrevendo-a no mês passado como “precipitada”, segundo o Channel News Asia.
Ainda assim, Ishiba reiterou sua proposta na sexta-feira, afirmando em uma entrevista coletiva que “o declínio relativo do poderio dos EUA” tornou essencial a criação de um tratado asiático.
O ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, também demonstrou ceticismo, afirmando na terça que Nova Délhi não compartilhava da visão de Ishiba.
“Nós nunca fomos um aliado de tratado de nenhum país. Não temos esse tipo de arquitetura estratégica em mente”, disse Jaishankar, conforme repercutiu o The Hindu. O ministro acrescentou que disse que Nova Délhi estava buscando uma “política de multialinhamento”, um resultado do reequilíbrio global, acelerado pela globalização.
No entanto, Ishiba solicita uma revisão da postura nuclear dos EUA, citando o fortalecimento das relações militares entre Rússia e Coreia do Norte e afirmando que a Rússia havia transferido tecnologia nuclear para o país asiático.
Nos últimos anos, a cooperação de defesa entre os EUA, o Japão e outros parceiros regionais cresceu, sendo referida pelo governo Biden como arquitetura de segurança “em treliça”. Isso inclui diálogos regulares no Quad, como é conhecido o Quadrilateral Security Dialogue (Diálogo de Segurança Quadrilateral, em tradução literal), o acordo AUKUS, o programa de aquisição de submarinos com propulsão nuclear, com Austrália e Reino Unido, e uma colaboração mais estreita entre Washington, Tóquio e Seul.
Segundo a Newsweek, analistas estão preocupados com a possibilidade de Moscou ter compartilhado conhecimentos nucleares com Kim Jong-un em troca de artilharia e mísseis fornecidos por Pyongyang às forças russas na Ucrânia, mas não há evidências concretas de tal acordo.
“Coexistência pacífica”, diz Xi
Durante um telefonema de congratulações na terça-feira, o presidente chinês Xi Jinping disse a Ishiba que é do interesse de ambos os países buscar a coexistência pacífica e a cooperação mútua. Ele enfatizou a necessidade de “esforçar-se para construir um relacionamento construtivo e estável entre China e Japão que atenda às demandas da nova era”, conforme declarado pelo Ministério das Relações Exteriores da China.