Presa por enfrentar o Partido Comunista Chinês, ativista relata tortura e privação no cárcere

Wei Yani, que busca asilo político no Canadá, conta que a solitária é usada como forma de punição e que violência física é habitual

A ativista de direitos humanos Wei Yani conseguiu fugir da China, onde sofria perseguição do governo e chegou a ser presa, e agora busca asilo político no Canadá. Em entrevista à rede Radio Free Asia (RFA), ela relatou ter sofrido diversas formas de tortura e privação durante o período em que esteve encarcerada, após ter enfrentado o autoritarismo e denunciado a corrupção no Partido Comunista Chinês (PCC).

Membro da minoria étnica Zhuang, Wei começou a enfrentar o governo em 2006, quando foi forçada a deixar a casa em que morava para dar lugar a uma hidrelétrica. A população afetada pelo megaprojeto do governo alega que o dinheiro estabelecido como compensação pelo despejo nunca foi pago na íntegra, gerando acusações de desvio de verbas por membros do PCC.

A briga para ter acesso ao dinheiro a levou ao que o governo classifica como “campos de reeducação”, que nada mais são do que prisões para minorias étnicas, onde também costumam ser detidos os uigures de Xinjiang. Libertada, ela não desistiu da luta pelo dinheiro e voltou a ser presa em 2014, em Beijing. Na prisão, diz ter sido torturada física e psicologicamente.

Congresso do Partido Comunista Chinês em 2012 (Foto: Wikimedia Commons)

Segndo Wei, a violência física é comum contra presos políticos. “Não estávamos sendo detidos e presos porque cometemos algum crime, mas porque lutamos pelos nossos direitos e colocamos em perigo os interesses instalados do governo”, disse ela.

Em determinada ocasião, diz que foi colocada em pé, com as mãos algemadas acima da cabeça, sob a ameaça de que permaneceria assim por uma semana. Aguentou, porém, pouco mais de uma hora, desmaiou e teve que ser retirada dali por seus torturadores.

Privação de sono foi outra prática comum, com chamadas periódicas que a forçavam a acordar para responder, fosse dia ou noite. A ativista ainda relatou que a alimentação, embora de baixa qualidade, não é fornecida pelo Estado aos presos, que devem pagar 7 yuans (R$ 5) para se alimentar.

“O confinamento solitário é mais uma punição psicológica”, acrescentou. “Eles trancam você lá por 15 dias e não se comunicam com você.”

Após ter sido libertada, Wei decidiu fugir e chegou à Tailândia em novembro, seguindo depois para a Malásia e de lá para Taiwan. Acreditou que teria abrigo na ilha, que luta contra a China para ter sua independência reconhecida. Mas não foi o que aconteceu. Sem uma legislação própria para concessão de asilo político, o governo taiwanês a expulsou.

Com a ajuda de grupos de apoio a exilados, ela e o filho conseguiram chegar ao Canadá. Fu Ci, um ativista que atua no caso, explicou que o caso dela é apenas um de muitos. “Em particular sob Xi Jinping, a situação dos defensores dos direitos humanos está constantemente se deteriorando e há cada vez menos espaço para eles existirem”, disse.

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