Aung San Suu Kyi é condenada novamente e tem a pena ampliada em Mianmar

Aung San Suu Kyi, que já cumpre 11 anos de prisão, foi condenada por corrupção, uma pena de 17 anos que ainda pode aumentar

A Justiça de Mianmar condenou nesta segunda-feira (15) a líder Aung San Suu Kyi, deposta no golpe de Estado promovido por militares em fevereiro de 2021, a mais seis anos de prisão, agora sob acusação de corrupção. As informações são da rede Radio Free Asia.

Aos 77 de idade, ela agora enfrenta um total de 17 anos de prisão. Isso porque esta pena mais recente foi somada à de 11 anos imposta em julgamentos de casos anteriores.

A sentença atual está ligada à aquisição de terras públicas a preços baixos pela Fundação Daw Khin Kyi, que tem o nome da mãe de Suu Kyi. O tribunal militar aceitou a acusação do Estado de que, com isso, a líder teria provocado prejuízo de 24,2 mil milhões de kyats (R$ 59 milhões) ao país.

Aung San Suu Kyi, em visita ao Kremlin, na Rússia, em abril de 2019 (Foto: Kremlin)

Suu Kyi, que já havia sido considerada culpada pela importação ilegal de walkie-talkies e por violar medidas sanitárias do enfrentamento ao coronavírus, ainda tem acusações pendentes que podem resultar em um período ainda mais longo de cárcere.

Ela responderá por violação da lei dos segredos de Estado, fraude eleitoral (referente ao resultado das eleições de 8 de novembro de 2020, quando houve vitória esmagadora do seu partido), sedição e corrupção.

“Este caso está errado desde o início”, disse Bo Bo Oo, ex-parlamentar pela NLD (Liga Nacional pela Democracia), cuja liderança foi derrubada em 2021 pela junta militar que assumiu o poder central.

“Para começar, o golpe militar foi feito em violação à lei, então é tolice eles dizerem que agora estão do lado da lei. Não reconheço a autoridade deles”, acrescentou o político.

Na opinião do observador político birmanês Than Soe Naing, ao prender e julgar Aung San Suu Kyi, os militares removem a vencedora do Nobel da Paz de 1991 da vida pública da nação do sudeste asiático.

“No entanto, a história mostrará que Aung San Suu Kyi nunca subornou ninguém ou cometeu fraude financeira. Sua virtude, integridade e dignidade nunca serão danificadas, nem um pouco”, disse ele.

Milhares de birmaneses foram às ruas reivindicar a liberdade da líder democraticamente eleita, uma figura respeitada por uma imensa fatia da população.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1252 pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro deste ano, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD (Liga Nacional pela Democracia) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram por meio de redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, na região de Sagaing.

A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado orquestrado em fevereiro deste ano.

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