Os recentes atritos entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, levaram Taiwan a adotar uma nova estratégia para evitar conflitos com Washington. Pouco após o tenso episódio entre os dois líderes na Casa Branca, a fabricante taiwanesa de semicondutores TSMC anunciou um gigantesco investimento de US$ 100 bilhões em fábricas, centros de pesquisa e unidades de embalagem de chips no território norte-americano. Segundo a rede Radio Free Europe (RFE), é tudo parte de uma estratégia para seduzir o aliado e evitar um abandono militar semelhante ao que ameaça Kiev.
O anúncio do investimento bilionário veio logo após Zelensky sair da reunião com Trump sem conseguir fechar um acordo previsto sobre minerais estratégicos, deixando no ar dúvidas quanto ao apoio futuro dos EUA à Ucrânia em meio à guerra contra a Rússia. Observando esse cenário, autoridades taiwanesas perceberam a necessidade urgente de se antecipar às demandas do governo americano, usando seu trunfo econômico mais valioso: a indústria de chips.
Em coletiva na Casa Branca, C.C. Wei, CEO da TSMC, afirmou que o investimento atende principalmente à demanda crescente de clientes globais, e não a pressões políticas. Trump, porém, declarou em seguida que o acordo permitirá à empresa taiwanesa escapar das tarifas de 25% impostas para trazer a produção de volta aos EUA.

O ex-deputado taiwanês Jason Hsu destacou claramente essa estratégia ao comentar o movimento da TSMC. “O principal item de Taiwan a oferecer são os chips, e quando Trump fala sobre nós ele quase sempre fala sobre chips”, afirmou, indicando que Taipé procura garantir boas relações através de acordos comerciais robustos.
Defesa fortalecida
A influência da guerra na Ucrânia sobre as decisões estratégicas de Taiwan tem ido além dos investimentos comerciais. O governo taiwanês vem aumentando gastos militares e lançando programas de preparação da população para possíveis crises ou conflitos com a China, que há décadas ameaça invadir e anexar a ilha.
O presidente taiwanês, Lai Ching-te, classificou recentemente a China como uma “força hostil estrangeira”, destacando a urgência de se ampliar as medidas de segurança nacional. Para ele, a experiência ucraniana deixou claro que não se pode ser ingênuo quanto às intenções do líder chinês Xi Jinping, o que motivou o aumento do orçamento de defesa para pelo menos 3% do PIB (produto interno bruto).
“A China tem se aproveitado da liberdade e diversidade democráticas de Taiwan para dividir, destruir e subverter o país a partir de dentro”, afirmou Lai em pronunciamento nacional.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.