Rebeldes acusam militares de Mianmar de assassinar 32 civis escondidos em mosteiro

Forças Armadas teriam invadido o espaço em busca de um hospital onde estariam sendo tratados combatentes que lutam contra o governo

Integrantes de grupos rebeldes que lutam contra as forças do governo de Mianmar acusam os militares de assassinar 32 civis durante uma operação em um mosteiro da vila de Let Htoke Taw, no sábado (11). As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

Segundo testemunhas que integram grupos rebeldes, soldados entraram na vila por volta das 5h (horário local) em busca de um hospital improvisado onde estariam sendo tratados combatentes das milícias armadas de oposição ao governo. Ao se depararem com civis que buscavam abrigo no mosteiro, estes teriam sido encurralados e executados

Protestos contra o golpe militar em Mianmar, 9 de fevereiro de 2021 (Foto: Divulgação/Ninjastrikers)

“As pessoas fugiam enquanto as forças da junta disparavam, algumas pessoas estavam escondidas em mosteiros”, disse Nway Oo, que teria presenciado o ataque dos militares. “Todos os homens foram ordenados a se sentar e foram mortos a tiros.”

Uma segunda testemunha deu o número de vítimas: 31 homens e uma mulher mortos, além de outras seis pessoas feridas. Fotos de corpos empilhados em caminhões foram exibidas à reportagem para comprovar a denúncia. Havia ao menos um menor de idade entre os mortos, um menino de 15 anos.

O Governo de Unidade Nacional, que estabeleceu um regime paralelo de oposição à juta, diz que a ação configura crime de guerra e que foi realizada por 70 soldados das Forças Armadas. Os militares, por sua vez, não divulgaram informações sobre qualquer ação na região onde teria ocorrido o massacre

O suposto massacre surge em meio às perdas significativas sofridas pelas forças do regime ante à ofensiva da Tríplice Aliança, uma coalizão rebelde composta por três grupos: o Exército Arakan, o Exército da Aliança Democrática Nacional de Mianmar (MNDAA) e o Exército de Libertação Nacional de Ta’ang.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU. A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o partido NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar, inclusive vetando resoluções que venham a condenar a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral, como no caso de dezembro de 2022.

Inicialmente, o golpe de Estado foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu financeiramente com a queda. Mas o cenário mudou rapidamente. Para não se distanciar da junta, Beijing classificou a prisão de Suu Kyi e de outros funcionários do governo como uma “remodelação de gabinete”, palavras usadas pela agência de notícias estatal Xinhua.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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