Relatório revela uso de trabalho forçado uigur em cadeias globais de minerais estratégicos

Estudo mapeia participação de 77 empresas em programa estatal chinês de transferência de mão de obra na região de Xinjiang

Minerais essenciais para a indústria global, como titânio, lítio, berílio e magnésio, estão sendo produzidos com trabalho forçado imposto pelo governo da China em Xinjiang. A denúncia consta de um relatório publicado nesta segunda-feira (17) pela entidade de direitos humanos Global Rights Compliance.

A China lidera a produção de 30 dos 44 minerais classificados como críticos pelo governo dos Estados Unidos e vem ampliando nos últimos dez anos a exploração e o processamento desses materiais em Xinjiang. Segundo o estudo, o crescimento da atividade mineral na região depende de um modelo estatal de repressão sistemática que envolve deslocamento forçado de trabalhadores, destruição de comunidades e separação de famílias uigures e de outros grupos étnicos de origem turca.

Panorama de Urumqi, capital de Xinjiang, com as montanhas de Yamalik ao fundo (Foto: Wikimedia Commons)

A pesquisa conecta esse sistema de trabalho forçado a grandes empresas chinesas envolvidas na cadeia produtiva dos quatro minerais analisados. Os insumos extraídos e processados em Xinjiang abastecem indústrias globais que fabricam tintas, garrafas térmicas, equipamentos aeroespaciais, componentes nucleares e armamentos.

Das empresas identificadas, 77 atuam diretamente na região com risco de envolvimento em programas de transferência de mão de obra. Quinze compraram produtos de fornecedores sediados em Xinjiang nos últimos dois anos.

Entre os dados mais alarmantes do relatório, destacam-se: 11,6% do titânio esponja do mundo — base para o metal de titânio — são produzidos em Xinjiang; a produção de baterias à base de lítio cresce de forma acelerada na região; mais de 50% do berílio chinês vem da província; e o país responde por 92% da produção global de magnésio, sendo Xinjiang uma das principais áreas produtoras.

A Global Rights Compliance também alerta para os riscos ambientais e comerciais associados ao modelo chinês de produção. O uso intensivo de carvão como fonte de energia, combinado à ausência de padrões ambientais e à opacidade das redes de distribuição, permite que produtos extraídos sob condições abusivas entrem no mercado internacional a preços artificialmente baixos, criando desvantagens competitivas para empresas que respeitam direitos humanos e normas ambientais.

Além das empresas baseadas em Xinjiang, o relatório identificou 68 clientes industriais com ligações comerciais com fornecedores que operam na região e 18 grupos empresariais que podem estar recebendo insumos de suas próprias subsidiárias estabelecidas em território uigur.

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