O governo dos EUA adicionou mais duas empresas chinesas à lista de sanções impostas a quem explora o trabalho forçado dos uigures. Em comunicado divulgado na quarta-feira (2), o Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) afirma que a siderúrgica Baowu Group Xinjiang Bayi Iron and Steel Co., Ltd. e a Changzhou Guanghui Food Ingredients Co., Ltd., que produz adoçantes alimentícios, ingressaram na relação que conta agora com 75 nomes.
“A Lei de Prevenção ao Trabalho Forçado Uigur (UFLPA, na sigla em inglês) é a ferramenta mais poderosa da Administração Biden-Harris para combater o trabalho forçado e responsabilizar seus perpetradores”, disse o secretário de Segurança Interna Alejandro N. Mayorkas.
Segundo ele, o objetivo da normativa legal é determinar que empresas norte-americanas examinem e avaliem suas cadeias de suprimentos, aderindo assim à missão de erradicar o trabalho forçado da economia global.
A Baowu foi inserida na lista por recrutar, transportar, transferir, abrigar ou receber trabalho forçado de uigures, cazaques, quirguizes ou membros de outros grupos perseguidos Xinjiang. Já a Changzhou é acusada de obter material da região chinesa ou de pessoas que trabalham nos programa de “alívio da pobreza”, de “assistência de pareamento” ou que participam de qualquer outro projeto laboral de Beijing que use trabalho forçado.
Adicionadas à lista, as duas empresas passam a ter seus produtos proibidos de entrar nos Estados Unidos. Segundo o DHS, esta é a primeira vez que empresas de aço e adoçantes foram adicionadas à lista de entidades sancionadas com base na UFLPA.
“Nenhum setor está fora dos limites. Continuaremos a identificar entidades em todos os setores e a responsabilizar aqueles que buscam lucrar com exploração e abuso”, disse o subsecretário do DHS, Robert Silvers. “As ações de hoje reafirmam nosso compromisso de eliminar o trabalho forçado das cadeias de suprimentos dos EUA e defender nossos valores de direitos humanos para todos”
Por que isso importa?
Os uigures são uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos. Eles vivem sobretudo na província de Xinjiang, que faz fronteira com países da Ásia Central e com eles divide raízes linguísticas e étnicas.
Os de 11 milhões de uigures enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.
Em agosto de 2022, a ONU divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.
O relatório, porém, não citou a palavra “genocídio” usada por alguns países ocidentais. O governo do presidente Joe Biden, dos EUA, foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e a Lituânia se juntou ao grupo mais recentemente.
A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. Beijing costuma classificar as denúncias como “a mentira do século”.