Segundo Zelensky, apoio da China à Rússia pode prolongar conflito na Ucrânia

Durante fórum de segurança asiático, líder ucraniano mencionou que alguns componentes do arsenal russo são de origem chinesa

Durante um fórum de segurança em Singapura no domingo (2), o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que o suporte dado por Beijing a Moscou irá prolongar o conflito na Ucrânia. Ele fez essas observações enquanto buscava apoio para a conferência e clamava por mais assistência militar para Kiev, que tem perdido território para as tropas russas. As informações são da rede CNN.

O evento chamado Diálogo de Shangri-La reuniu líderes de defesa da Ásia-Pacífico, incluindo representantes chineses e dos Estados Unidos, o líder ucraniano também afirmou que tal comportamento da China contradiz os princípios declarados pelo país de apoiar a integridade territorial e a soberania. O fórum precede a conferência internacional de paz sobre a Ucrânia, agendada para os dias 15 e 16 de junho na Suíça, a qual Zelensky acusou a Rússia de tentar impedir.

“Isso é prejudicial para todos e vai contra a política declarada pela China, que afirma apoiar a integridade territorial e a soberania. Para eles, não é uma situação favorável”, disse o presidente ucraniano.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em foto de 2022 (Foto: WikiCommons)

Beijing afirma sua neutralidade no conflito e se apresenta como defensora da paz, apesar de ter fortalecido sua parceria estratégica e diplomática com a Rússia desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, que se tornou crucial para sua economia e foi definida como uma aliança “sem limites”. Por sua vez, os Estados Unidos acusam a China de alimentar a base industrial de defesa russa através da exportação de bens de dupla utilização e alertaram sobre as consequências desse apoio.

No entanto, Beijing refuta tais alegações de Washington, afirmando que não forneceu armas a nenhum dos lados e mantém rigorosos controles de exportação de bens de dupla utilização.

Zelensky discorda do discurso oficial chinês e mencionou esse apoio durante seu comentários no domingo, sugerindo que certos componentes do arsenal russo são, de fato, provenientes do gigante asiático. Ele também alertou que Moscou estava tentando influenciar os países a não participarem da próxima cúpula internacional de paz, com a ajuda da China.

O líder ucraniano acrescentou que a Rússia está buscando “desestabilizar” a cúpula de paz, “viajando por vários países e ameaçando-os com bloqueios econômicos”, numa tentativa de “dissuadir” sua participação.

Ao ser questionado sobre a declaração de Beijing sobre sua não participação na cúpula de paz, o presidente ucraniano acusou a Rússia de utilizar diplomatas chineses para desestabilizar o evento.

“É lamentável que um país tão grande, independente e poderoso como a China esteja sendo influenciado por Vladimir Putin“, lamentou Zelensky. O líder ucraniano ainda destacou que não teve nenhum encontro com representantes chineses em Singapura, apesar do interesse do lado ucraniano em promover mais diálogo.

Na semana passada, Beijing anunciou que não enviará uma delegação à conferência de paz, argumentando que qualquer reunião internacional desse tipo deveria contar com o reconhecimento de Moscou e Kiev, além da participação equitativa de todas as partes e discussões justas de todos os planos de paz.

Beijing nega ajuda a ambas as partes

O ministro chinês da Defesa Nacional, Dong Jun, em um discurso no domingo anterior, afirmou que a China está comprometida em promover conversas de paz com “responsabilidade”.

Dong também comentou sobre as acusações dos Estados Unidos de que a China está fortalecendo a capacidade de defesa industrial da Rússia ao exportar produtos de dupla utilização. Ele declarou que a China não tem fornecido armas a nenhum dos lados envolvidos no conflito e introduziu medidas de controle mais rigorosas sobre as exportações de produtos de dupla utilização.

No entanto, há indícios de que empresas chinesas ajudaram a equipar as forças armadas russas, embora não seja possível responsabilizar diretamente o governo. No começo de fevereiro de 2023, reportagem do Wall Street Journal (WSJ) revelou que foram enviados, a partir de Beijing, itens proibidos destinados a empresas de defesa do Kremlin embargadas pelos EUA. Na lista estariam equipamentos de navegação, tecnologia de interferência e peças de caças.

Tempo esgotando

O apelo feito pelo presidente ucraniano no Diálogo de Shangri-La ocorre ao mesmo tempo em que suas tropas lutam contra um avanço russo em Kharkiv, o que reforça a urgência de apoio internacional ao plano de paz.

Zelensky busca a retirada das forças russas e o restabelecimento das fronteiras reconhecidas internacionalmente, recusando-se a negociar enquanto a Rússia não se retirar. Ele alerta que “o tempo está acabando”, especialmente para as crianças ucranianas afetadas pelo conflito.

Tags: