Pelo menos seis crianças morreram e 17 ficaram feridas após helicópteros da junta militar de Mianmar, que governa o país desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, atirarem contra uma escola na última sexta-feira (16), segundo relatos da mídia e moradores trazidos nesta segunda (19). As informações são da agência Reuters.
O exército alega que coordenou o ataque porque o prédio estaria sendo usado por rebeldes para investir contra suas forças.
A violência ocorreu na aldeia de Let Yet Kone, na região central de Sagaing. De acordo com notícias veiculadas nos portais Mizzima e Irrawaddy, os helicópteros abriram fogo contra o educandário, localizado em um mosteiro budista na vila, que estaria sendo usado também como esconderijo dos insurgentes.
Algumas das crianças perderam a vida no local em consequência do ataque aéreo. Outras foram mortas após a entrada de tropas birmanesas na aldeia.
De acordo com o relato de dois moradores, que falaram sob condição de anonimato por razões de segurança, os militares levaram os corpos para uma cidade a 11 quilômetros de distância e os enterraram lá.
Várias fotos do ataque foram vistas circulando nas redes sociais. As imagens mostram buracos de bala e manchas de sangue no prédio da escola.
Enquanto isso, em um comunicado divulgado pelo exército, os militares disseram que um grupo rebelde chamado Exército da Independência de Kachin e a Força de Defesa do Povo (PDF, na sigla em inglês), uma organização de guerrilheiros armados, estavam escondidos no mosteiro. Eles estariam usando a aldeia para enviar armas para a área, o que justificou a operação contra os insurgentes.
A nota admitiu que alguns moradores foram mortos no confronto, e que os feridos foram levados para hospitais públicos para tratamento. O comunicado acusa os grupos armados de usarem os habitantes locais como escudos humanos e disse que armas, incluindo 16 bombas artesanais, foram apreendidas.
Em um comunicado após os ataques aéreos de sexta-feira, o movimento de resistência autodenominado Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês) acusou a junta de “ataques direcionados” a escolas. O governo paralelo pró-democracia também reivindicou a libertação de 20 alunos e professores que foram presos após a investida.
De acordo com a ONG Save The Children, os ataques violentos documentados a escolas aumentaram para cerca de 190 em 2021 em Mianmar em relação a 10 no ano anterior.
Por que isso importa?
Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1,5 mil desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.
Na ocasião, o NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.
O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.
No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram por meio de redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, na região de Sagaing.
A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado orquestrado em fevereiro deste ano.