Taiwan alega ameaça à segurança nacional e restringe o uso do aplicativo TikTok

Inicialmente, o aplicativo chinês, que é atualmente o mais baixado do mundo, será proibido nos dispositivos do setor público

O governo de Taiwan anunciou que vai restringir o uso da rede social chinesa TikTok em todo o território. Em um primeiro momento, o aplicativo, que é atualmente o mais baixado do mundo, será proibido nos dispositivos fixos e móveis do setor público, por questões de “segurança nacional”. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

A decisão a respeito do TikTok segue uma tendência em Taiwan, que antes já havia banido outros serviços e conteúdos de internet provenientes da China, como a plataforma de multimídia iQiyi e os games da Tencent.

As proibições escoram-se nas suspeitas de que empresas do setor digital, entre elas as companhias de telecomunicações, sirvam aos interesses do Partido Comunista Chinês (PCC). Pela Lei de Inteligência Nacional, de 2017, empresas nacionais chinesas devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que teoricamente as obriga a atender às demandas de Beijing.

A suspeita é ratificada por Lin Ying-ta, professor de engenharia da informação na Universidade Nacional Chiao Tung, em Taiwan. “Essas plataformas podem coletar informações pessoais dos usuários no lado do servidor e podem quebrar os protocolos de segurança da informação no celular ou no lado do usuário”, disse ele.

Rede social chinesa TikTok virou peça de disputa geopolítica (Foto: Kon Karampelas/Pixabay)
Banida nos EUA

Diversos Estados norte-americanos também baniram o TikTok em dispositivos do setor público. Henry McMaster, governador da Carolina do Sul, emitiu uma carta a funcionários do governo advertindo “que o TikTok representa um perigo claro e presente para seus usuários, e uma crescente coalizão bipartidária no Congresso está pressionando para proibir o acesso ao TikTok nos Estados Unidos”.

O Estado de Indiana, inclusive, anunciou nesta semana uma ação judicial contra a popular plataforma de vídeos, desenvolvida pela chinesa ByteDance. No processo, o governo relata falhas de segurança na rede social que causam danos aos jovens e comprometem a privacidade dos usuários, segundo a rede BBC.

Conforme a denúncia, o algoritmo do TikTok promove conteúdo impróprio, “retratando álcool, tabaco e drogas; conteúdo sexual, nudez e temas sugestivos; e palavrões intensos” que não são filtrados mesmo quando direcionados aos menores de idade. Nas lojas de aplicativos de Apple e Google, a rede social tem classificação etária de 12 anos, o que o Estado de Indiana considera inapropriado.

Chris Wray, diretor do FBI, a polícia federal norte-americana, reforçou as denúncias globais em novembro, quando falou ao Comitê de Segurança Interna da Câmara dos EUA. Ele afirmou que a lei chinesa exige essencialmente que as empresas “façam o que o governo quiser em termos de compartilhamento de informações ou servindo como uma ferramenta do governo chinês”.

Coleta excessiva de dados

Um estudo divulgado em julho deste ano pela Internet 2.0, empresa australiana especializada em cibersegurança, reforçou a desconfiança global em torno do TikTok. De acordo com a análise, o aplicativo chinês é “excessivamente intrusivo” e realiza uma “excessiva” coleta de dados dos usuários.

Internet 2.0 decifrou o código-fonte e identificou como uma série de dados está sendo direcionada sem que o usuário perceba. A análise técnica apontou que o aplicativo verifica a localização do dispositivo pelo menos uma vez por hora e tem acesso contínuo ao calendário e aos contatos. Com isso, informações confidenciais estariam sendo enviadas de volta à China.

“O aplicativo móvel TikTok não prioriza a privacidade”, afirmou o relatório. “Permissões e coleta de informações do dispositivo são excessivamente intrusivas e não são necessárias para o funcionamento do aplicativo”.

Conhecido como Douyin em seu país natal, o TikTok também consegue verificar tanto o ID do dispositivo em que está hospedado quanto o disco rígido, o que permite que ele monitore todos os outros aplicativos instalados no aparelho em que se hospeda, dizem os especialistas australianos.

“Se o usuário negar o acesso, ele continua solicitando até que o usuário permita”, disse o relatório.

Outra questão destacada pela análise técnica é o fato de o servidor do TikTok na China ser administrado por uma das gigantes locais nos serviços de nuvem e segurança cibernética

“Também é digno de nota que o TikTok IOS 25.1.1 (a versão que roda em iPhones) tem uma conexão de servidor com a China continental, que é administrada por uma das cem maiores empresas chinesas de segurança cibernética e dados, a Guizhou Baishan Cloud Technology“, informou o relatório.

A descoberta contraria as alegações do TikTok, que diz armazenar os dados do usuário nos EUA e em Singapura. Além disso, o relatório diz ter encontrado evidências de “muitos subdomínios no aplicativo iOS espalhados pelo mundo”, incluindo Baishan, cidade chinesa na província de Jilin.

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