Taiwan lembra Massacre da Praça da Paz Celestial enquanto Hong Kong enfrenta silenciamento

Em todo o mundo de língua chinesa, Taiwan é o único lugar onde um memorial aberto é realizado para lembrar o episódio

Nesta terça-feira (4), Taiwan relembrou os 35 anos desde que soldados chineses abriram fogo contra manifestantes pró-democracia na Praça Tiananmen, em Beijing. A data homenageia as vítimas do Massacre da Praça da Paz Celestial, episódio em que as forças do Partido Comunista Chinês (PCC) reprimiram violentamente os atos e causaram milhares de mortes em 1989. As informações são da rede Radio Free Asia.

Taipé, a capital da ilha, é o único lugar de língua chinesa onde um memorial é realizado abertamente. O evento ocorreu no Salão Memorial Chiang Kai-shek. Desde a transição democrática da ilha, esse local tem sido palco de protestos e manifestações pelos direitos humanos.

Kasey Wong, uma artista que participou do evento, relatou à reportagem que a atenção das pessoas para a celebração de 4 de junho está “gradualmente crescendo” em Taiwan, mas não o considera um evento muito popular ainda porque o território semiautônomo “enfrenta seus próprios problemas”.

A área da praça após o massacre, em junho de 1989 (Foto: Wikimedia Commons)

“No entanto, o evento se tornou uma plataforma que semeia a responsabilidade dos cidadãos pela liberdade e democracia. Eu acredito que Taiwan é um farol de democracia na Ásia, e, portanto, tem a responsabilidade de defender esse evento, já que Hong Kong não tem mais capacidade para fazê-lo”, acrescentou.

Embora a vigília tenha sido principalmente para lembrar o massacre, também incluiu obras de arte representando outras causas políticas, desde o Tibete até Hong Kong e organizações da sociedade civil de Taiwan.

Pelo Facebook, o novo presidente de Taiwan, Lai Ching-te, afirmou que a violenta repressão chinesa na praça Tiananmen “não desaparecerá na torrente da história”. O líder enfatizou a importância de preservar essa memória histórica e destacou que a democracia e a liberdade não são conquistas fáceis. “Devemos responder à autocracia com liberdade e enfrentar a expansão do autoritarismo com coragem”.

Já em Hong Kong, a tradicional vigília à luz de velas está proibida, inclusive com participantes julgados e condenado com base na lei de segurança nacional. Em 2023, algumas poucas pessoas desafiaram a repressão, com relatos de mais de 30 detidos. Em substituição ao memorial ocorre atualmente uma festa popular pró-China que celebra a entrega da cidade ao controle de Beijing.

Em 2019, a vigília de Hong Kong atingiu seu auge, atraindo um recorde de 180 mil pessoas. Naquela época, a cidade exalava frustração política, com grandes protestos. No entanto, desde então, nenhuma recordação formal foi permitida. Inicialmente, os limites impostos pela Covid-19 restringiram as reuniões, e posteriormente a lei de segurança nacional entrou em vigor.

Por conta da repressão política, o grupo de Hong Kong que organizava a vigília desistiu em 2021. Seus líderes enfrentaram processos por subversão e sedição devido ao envolvimento em manifestações pró-democracia em 2019. Até o momento, nenhuma outra organização se apresentou para ocupar seu lugar. A lembrança desse evento continua sendo um desafio em meio às mudanças políticas e restrições legais.

O Massacre

Em 4 de junho de 1989, centenas de milhares de estudantes e trabalhadores haviam se reunido para lamentar a morte do secretário-geral do PCC, Hu Yaobang. Porém, a marcha pacífica logo se transformou em um movimento por maior transparência, reformas e democracia na China.

O exército foi mobilizado e dispersou a multidão com armas de fogo e tanques de guerra, considerando a manifestação popular uma ameaça ao poder do PCC. Números oficiais de mortos e feridos nunca foram divulgados, vez que o governo chinês tornou o assunto proibido no país. Porém, dados levantados pelo governo britânico e reproduzidos pela BBC apontam cerca de dez mil vítimas fatais. 

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