Taleban do Paquistão anuncia fim do cessar-fogo e ordena ataques em todo o país

Trégua havia sido estabelecida em junho, mas o grupo radical diz que o governo continuou a perseguir os militantes

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), grupo popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, anunciou na segunda-feira (28) o fim do frágil cessar-fogo que havia estabelecido com Islamabad há cerca de cinco meses e ordenou que seus seguidores realizem ataques em todo o país. As informações são da rede Gandhara.

A trégua havia sido firmada em junho deste ano, mas ainda assim o grupo radical continuou a realizar ataques esporádicos. Um deles, no dia 16 de novembro, deixou seis policiais mortos na província de Khyber Pakhtunkhwa. Agora, qualquer resquício de diplomacia está enterrado, sob o argumento de que os militantes continuavam a ser perseguidos pelo governo paquistanês.

“Como as operações militares estão em andamento contra mujahideen em diferentes áreas, é imperativo que vocês (seguidores do TTP) realizem ataques sempre que puderem em todo o país”, afirmou o grupo extremista em um comunicado, de acordo com o site The Defense Post.

O TTP disse ainda que demonstrou “paciência contínua para que o processo de negociação não fosse sabotado”, mas os termos não foram respeitados por Islamabad. “Então, agora nossos ataques de retaliação também começarão em todo o país”, declararam os radicais.

O anúncio ocorre justamente no momento em que a ministra das Relações Exteriores paquistanesa, Hina Rabbani Khar, chefia uma delegação que foi ao Afeganistão negociar com o Taleban local um acordo de segurança regional que tende a envolver o TTP.

Shehbaz Sharif, primeiro-ministro do Paquistão (Foto: WikiCommons)
Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveita sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para conduzir negociações que incluem ao TTP, entra elas dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, e agora foi mais uma vez rompido.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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