China vê as eleições dos EUA como uma chance de ganhar força entre os países europeus

Ministro chinês das Relações Exteriores diz que a Europa, preocupada com o futuro da Casa Branca, enxerga Beijing de forma mais 'racional'

O principal diplomata chinês está otimista com a mudança de perspectiva da Europa em relação à China, descrevendo-a como mais “racional”. Essa análise vem na esteira de preocupações europeias sobre o resultado das eleições nos Estados Unidos e pode representar uma oportunidade estratégica para Beijing fortalecer seus laços com o continente, segundo reportagem do jornal South China Morning Post.

Enquanto o 5 de novembro não chega, data em que os norte-americanos irão às urnas, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, está empenhado em apresentar seu país como um parceiro confiável e uma “força estabilizadora” no cenário global. Yi realizou uma série de reuniões com autoridades europeias durante a Conferência de Segurança de Munique, encerrada no último domingo (18) e que ocorreu em um momento de grande agitação devido às eleições nos EUA e no que isso diz respeito ao conflito na Ucrânia.

Durante o evento na Alemanha, Wang participou de várias reuniões com homólogos e líderes europeus. O clima esteve favorável, de acordo com os relatos chineses desses encontros. Lideranças importantes, como o chanceler alemão Olaf Scholz e o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, manifestaram compromisso em “se opor” ao distanciamento da China, mostrando um esforço conjunto em manter laços sólidos com Beijing.

O ministro de Relações Exteriores da China, Wang Yi (Foto: WikiCommons)

Ao retornar a Beijing na quarta-feira (22), Wang, destacou a receptividade positiva da Europa em fortalecer os laços com a China em todos os níveis, enfatizando o entusiasmo em “aprofundar a cooperação prática” entre as partes.

Durante sua viagem à Europa, que incluiu visitas à Espanha e à França após passar pela Alemanha, Wang falou em um aumento no “entendimento racional da Europa em relação à China”. Ele ressaltou a crença de que o desenvolvimento chinês está “alinhado com a lógica da história” e encorajou a Europa a abraçar essa perspectiva, em vez de temê-la ou rejeitá-la.

Trump em alta

Observadores destacam que as preocupações com as eleições nos EUA podem favorecer a China, que busca ganhar a confiança da Europa para defender um “sistema internacional multipolar” diante da rivalidade com Washington.

Na Europa, é crescente a preocupação com a possibilidade de Donald Trump, favorito à nomeação republicana para a presidência, retornar à Casa Branca. E o político está em alta no país.

O republicano tem se posicionado contra novos financiamentos para a Ucrânia e recentemente declarou que encorajaria a Rússia a “agir como quisesse com qualquer aliado da Otan” (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que não cumprisse suas obrigações financeiras.

Trump critica a falta de gastos militares entre os integrantes da Otan e ameaça retirar os EUA da aliança, levantando preocupações sobre o fortalecimento da Rússia. Reagindo a esse discurso, líderes europeus rejeitam seus comentários e assinam acordos para tranquilizar a Ucrânia, prometendo apoio financeiro. Porém, os republicanos têm impedido novos auxílios para Kiev partindo de Washington, o que aumenta as tensões geopolíticas.

O professor Ding Chun, da Universidade Fudan, especializado em estudos europeus, analisou a situação. Ele apontou que a Europa está se preparando para um possível retorno de Trump ao poder, aliviando tensões com a China e ajustando sua política em relação a ela. Segundo ele, neste momento, a Europa está considerando suas relações bilaterais com Beijing de forma “estratégica e racional”, reconhecendo a importância do país como parceiro, concorrente ou rival em várias áreas, especialmente na cena internacional.

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