Xi recebe Putin em Beijing, exalta aliança contra os EUA e prega ‘acordo político’ na Ucrânia

Líderes se encontraram pela quarta vez desde o início do conflito, e presidente chinês contesta 'mentalidade da Guerra Fria galopante'

A primeira viagem internacional do presidente da Rússia, Vladimir Putin, desde que iniciou seu quinto mandato à frente do país não poderia ter outro destino. Ele chegou nesta quinta-feira (16) à China, onde foi recebido com pompa militar pelo homólogo e “querido amigoXi Jinping. No quatro encontro desde que a guerra da Ucrânia teve início, os líderes voltaram a usar o termo “multipolaridade” ao definirem seus objetivos geopolíticos, um recado claro aos EUA, e reafirmaram a solidez da aliança, pregando uma solução para encerrar o conflito na Europa.

“No mundo de hoje, a mentalidade da Guerra Fria ainda é galopante. A hegemonia unilateral, o confronto de blocos e a política de poder ameaçam diretamente a paz mundial e a segurança de todos os países”, disse Xi em declaração reproduzida pelo site do Kremlin.

No texto, o presidente da China listou o que seriam cinco princípios comuns que as duas nações se propuseram a alcançar. Entre eles, “promover a emergência de um mundo multipolar e o processo de globalização econômica através de um verdadeiro multilateralismo.”

Os presidentes da China, Xi Jinping e da Rússia, Vladimir Putin, em Beijing maio de 2024 (Foto: Kremlin)

Putin seguiu pelo mesmo caminho, dizendo que Rússia e China trabalham “em conjunto para formar uma ordem mundial multipolar mais justa e democrática” e baseada no “equilíbrio de interesses.”

O líder russo defendeu, ainda, a “despolitização de instituições multilaterais” e “sua adequação às realidades modernas”, crítica velada ao que considera uma influência indevida dos EUA sobre órgãos como a Organização Mundial do Comércio (OMC), onde Beijing e Washington travam frequentes embates devido às respectivas políticas de sanções econômicas.

A “multipolaridade” é o norte da relação entre Rússia e China, que já haviam usado a palavra no encontro anterior entre os dois presidentes, em março de 2023, em Moscou. Na oportunidade, publicaram um comunicado conjunto que falava em promover “um mundo multipolar”, de forma a combater o que enxergam como uma ordem global centrada no Ocidente.

Outros trechos dos comunicados dos dois líderes publicados nesta quinta igualmente atingem os EUA e seus aliados, especialmente os da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Neste capítulo, houve espaço para Beijing se apresentar como mediadora e assim tentar encerrar a guerra na Ucrânia, aparentemente sem levar em conta a posição de Kiev.

Xi declarou que “China e Rússia consideram que um acordo político é a forma correta de resolver a crise ucraniana”, enquanto Putin prometeu manter o amigo informado “sobre a situação que se desenvolve em torno da crise ucraniana.”

O presidente russo, então, devolveu a gentileza ao comentar as crises chineses, afirmando que é necessária a “construção de uma arquitetura de segurança fiável e adequada na região Ásia-Pacífico.”

Beijing trava uma disputa territorial carregada de hostilidade com as Filipinas e paralelamente enfrenta a delicada questão de Taiwan, sendo que em ambos os casos os rivais chineses contam com apoio econômico e militar de Washington.

Segundo o presidente russo, na Ásia-Pacífico “não há lugar para alianças político-militares fechadas”, e a “criação de tais alianças é muito prejudicial e contraproducente.”

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