A Coreia do Sul respondeu na terça-feira (10) as alegações de Beijing de que suas regras impostas a viajantes chineses para conter a Covid-19 são “discriminatórias”. Segundo uma autoridade de saúde, a medida tem justificativa: mais da metade dos casos importados registrados no país vêm da China, resultado de um novo surto de coronavírus na nação vizinha após o fim da radical política Zero Covid. As informações são da rede CNBC.
Segundo relatou em entrevista o vice-diretor da Agência de Controle e Prevenção de Doenças sul-coreano, Seung-ho Choi, a alta de casos importados teve crescimento vertiginoso: 80% dos casos confirmados por lá são de pessoas que vieram da China. Só entre os meses de novembro e dezembro os testes positivos aumentaram 14 vezes.
“As políticas cobrem todos os cidadãos coreanos e não coreanos vindos da China. Isso não se limita apenas ao povo chinês. Não há discriminação por nacionalidade nesta medida”, explicou.
Ele observou que, pela proximidade, a explosão de casos na China representa riscos para a Coreia do Sul.
“A situação do Covid-19 na China ainda está piorando, o que criou a possibilidade de novas variantes serem detectadas”, disse ele, acrescentando que as medidas eram inevitáveis e se devem ao fato do governo chinês ter “parado de publicar dados sobre casos confirmados diariamente”.
Governos de todo o mundo estão implementando medidas para verificar possíveis infecções ou até mesmo proibir a entrada de turistas vindos da nação asiática que originou a pandemia em 2019. O sentimento em comum é o de temor de que a rápida disseminação do vírus possa levar ao surgimento de novas variantes, fazendo com que uma nova crise venha à tona. E, como o surto de Wuhan demonstrou há três anos, o que começa na China não necessariamente fica por lá.
A abertura das fronteiras da China no domingo (8) foi um dos últimos passos no fim dos bloqueios nacionais de Covid Zero no país. No mesmo dia, Beijing abriu as portas para mais viagens dentro e fora do país.
Tanto a Coreia do Sul quanto o Japão, os principais destinos de viajantes chineses, já disseram que não estão aumentando seus voos após Beijing liberar a abertura da fronteira. Além disso, Seul anunciou planos para limitar os vistos de curto prazo a viajantes da China.
Em resposta, tanto a embaixada sul-coreana quanto a japonesa na China anunciaram na terça que parariam de emitir vistos para cidadãos vindos desses dois países, inclusive para negócios e questões médicas.
“A China rejeita firmemente as medidas discriminatórias de restrição de entrada de um punhado de países visando a China e tomará medidas recíprocas”, disse na terça o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin.
Viajar é o “menor dos problemas”
Ouvida pela reportagem, a cidadã chinesa Cheryl Yang observou que para ela e outros tantos chineses, viajar, neste momento, é a menor das preocupações, considerando o caos na saúde dentro do país e outras paralisações.
“Muitas pessoas que conheço estiveram doentes ou estão doentes, e muitas crianças estão fora da escola”, disse ela. “Viajar seria um problema secundário no momento”.
Já um profissional de finanças de Xangai, cidade que foi uma das que mais sofreu com a Covid Zero e onde os bloqueios sanitários rigorosos resultaram em vários suicídios, definiu as restrições sul-coreanas como “muito justas”.
“Nenhum dos meus amigos embarcaria em um voo cheio de pessoas positivas para Covid”, disse ele, que falou sobre condição de anonimato.
Mas o cenário na China pode mudar logo adiante. Pelo menos é o que disse um relatório do HSBC Global Research publicado em 5 de janeiro. Segundo a análise, a reabertura está progredindo “mais rápido do que o esperado” e o país “emergirá da Covid-19 e se recuperará fortemente a partir do 2º trimestre de 2023”.