China trava ‘batalha trágica’ contra a Covid, com estimativa de cinco mil mortes diárias

Número diário de casos pode chegar a quatro milhões até março, de acordo com análise feita por uma empresa especializada

Em meio a um surto de Covid-19 que começou após Beijing por fim aos bloqueios nacionais, no início de dezembro, mais de cinco mil pessoas estariam morrendo diariamente no país. A estimativa foi feita pela empresa de dados de saúde Airfinity e representa um contraste abissal com a estatística oficial, que registrou apenas 5.241 mortes desde o início da pandemia em dezembro de 2019. As informações são da agência Reuters.

E pode piorar. A onda enfrentada pelo país, que tem uma população de 1,4 bilhão, pode fazer a taxa diária de casos subir para 3,7 milhões até o mês que vem, diz a Airfinity. Para mais adiante, o cenário é ainda mais dramático: provavelmente haverá outro surto em março, que elevará o pico diário para 4,2 milhões.

Em comunicado, a empresa sediada em Londres ainda afirmou que estimativas do governo chinês estão “em total contraste com os dados oficiais, que relatam 1,8 mil casos e apenas sete mortes oficiais na semana passada”.

Situação saiu de controle na China após afrouxamento das rígidas medidas sanitárias (Foto: WikiCommons)

Na quarta-feira (21), a China registrou 2.966 novos casos e nenhuma nova morte por Covid. Porém, essa conta parece não fechar, considerando a superlotação em hospitais e os crematórios operando muito acima da capacidade. Principalmente em Beijing e na província de Guangdong, no sul do país, afirmou a empresa.

O que ajuda a explicar o número oficial diminuto é que apenas as mortes causadas por pneumonia ou insuficiência respiratória são oficialmente contabilizadas como tendo sido causadas pela Covid-19. Assim, ficam fora das estatísticas oficiais as mortes de pessoas com doenças pré-existentes e infectadas pelo coronavírus.

Há relatos de cidadãos de Xangai de que diversos idosos que teriam morrido em função da doença não foram contabilizados como vítimas da Covid-19, mesmo após terem testado positivo para a doença. No caso de pessoas que tinham doenças pré-existentes, foi a elas que se atribuiu oficialmente o óbito.

Tais mudanças na forma como o governo relata os números do vírus significam que “é improvável que os dados oficiais sejam um reflexo verdadeiro do surto que está ocorrendo em todo o país”, disse Louise Blair, chefe de vacinas e epidemiologia da Airfinity. “Essa mudança pode minimizar a extensão das mortes observadas na China”.

A cidade foi uma das que mais sofreu com as rígidas políticas de “Covid Zero” do governo. A população ficou sob confinamento por dois meses, num lockdown encerrado em junho. Os bloqueios sanitários rigorosos que se arrastaram por lá resultaram em vários suicídios, boa parte de pessoas que saltaram de prédios altos. Parte da população também perdeu a renda.

Para especialistas em saúde, a nova realidade pode fazer com que até 90% da população chinesa seja contaminada pelo coronavírus. Segundo Anthony Fauc, consultor médico da Casa Branca, a situação tende a afetar também os demais países, com o risco de que novas variantes da Covid surjam na China e posteriormente se espalhem.

Xangai projeta 50% da população infectada

Prevendo que metade dos 25 milhões de habitantes da cidade estará infectada até o final da semana que vem, um hospital em Xangai orientou sua equipe para que esteja a postos para uma “trágica batalha”, segundo a Reuters.

Por meio de um post na rede social chinesa WeChat na quarta (21), o Shanghai Deji Hospital estimou que há cerca de 5,43 milhões de casos positivos na cidade, que é o principal centro comercial da China. E previu que 12,5 milhões serão infectados até o final do ano.

“A véspera de Natal, o Ano Novo e o Ano Novo Lunar deste ano estão destinados a ser inseguros”, disse a casa hospitalar particular, que emprega cerca de 400 funcionários. Diante desse cenário, fez previsões nada otimistas.

“Nesta trágica batalha, toda a Grande Xangai cairá e infectaremos todos os funcionários do hospital! Vamos infectar toda a família! Todos os nossos pacientes serão infectados! Não temos escolha e não podemos escapar”, diz o hospital, em publicação que já não estava mais no ar nesta quinta-feira (22).

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