Para diretora do Pnud, renda básica deixou de ser utopia no pós-Covid

"Ideias mais atrevidas" contra desigualdade ganham espaço com crise do coronavírus, diz Kanni Wignaraja

O impacto sanitário e econômico deixado pela pandemia do novo coronavírus abriu espaço no debate público para a implementação da renda básica universal. Neste modelo, todos os cidadãos recebem uma quantidade em dinheiro que permita acesso mínimo a uma vida digna.

Uma das defensoras do modelo é Kanni Wignaraja, diretora do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Para ela, a crise gerada pela pandemia, com avanço da pobreza e desigualdade, permitem “ideias mais atrevidas” para endereçar o problema.

A entidade tem procurado reintroduzir o debate da renda mínima universal em diferentes países. A meta é que as nações incorporem programas do tipo em seus pacotes de estímulo fiscal.

Na avaliação da ONU (Organização das Nações Unidas), é importante responder a esse tipo de situação-limite, como a crise do coronavírus, sem deixar as pessoas sem opções porque não conseguem renda suficiente para subsistir.

Para diretora do Pnud, renda básica deixou de ser utopia no pós-Covid
Mulher trabalha em confecção em Gazipur, Bangladesh (Foto: UN Photo)

Custo e regressividade

A especialista, que representa a região da Ásia-Pacífico, defende a implementação de políticas do tipo na região. Segundo a diretora do Pnud, a renda mínima custaria menos que pacotes de resgate ou subsídios a combustíveis fósseis.

“Ainda por cima, países em desenvolvimento perdem mais de US$ 1 trilhão por ano em fluxos financeiros ilícitos. Isso sem contar a corrupção doméstica e as ineficiências”, afirmou Wignaraja.

A proposta também seria mais eficaz para manter baixa a taxa de endividamento externo desses países. Na região, cerca de 60% das pessoas não conta com nenhum tipo de auxílio – nem mesmo de Previdência.

A especialista também criticou a regressividade do sistema tributário dos países da região. Isso significa que a população pobre compromete uma parcela maior de sua renda com impostos. “A maioria dos pobres é desproporcionalmente taxada, e isso precisa mudar’, afirma Wignaraja.

A renda básica, aponta o Pnud, não é “a solução para os problemas econômicos da região, mas salvará as pessoas de cair no abismo”. O auxílio seria uma maneira de equalizar as mudanças econômicas sem gerar crise social.

Ao mesmo tempo, avalia Wignaraja, será preciso aumentar investimentos em educação para a população jovem, que chegará ao mercado de trabalho nos próximos anos, possa ter acesso a emprego mesmo com o aumento da automação e da indústria 4.0.

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