‘Estamos acostumados’, dizem militares de Mianmar sobre sanções externas

Vice-chefe militar de Mianmar reagiu com ironia à possibilidade de isolamento; "sobreviveremos", disse general

Os militares que tomaram o poder em Mianmar há um mês reagiram com ironia às ameaças de sanção da ONU (Organização das Nações Unidas). À enviada Christine Schraner Burgener, o vice-chefe do Exército, general Soe Win, afirmou que o governo não teme retaliações pelo golpe.

“Avisei-o que provavelmente enfrentariam fortes medidas não apenas da ONU, mas de vários países”, relatou Burgener à Reuters. “A resposta foi ‘estamos acostumados a sanções e sobreviveremos'”.

Quando alertado sobre a possibilidade de isolamento, Soe afirmou que “é necessário aprender a andar com alguns poucos amigos”. A enviada deve informar a posição dos militares birmaneses ao Conselho de Segurança da ONU nesta sexta (5).

"Estamos acostumados", dizem militares de Mianmar sobre sanções externas
Protestos contra o golpe militar em Mianmar, em registro de 9 de fevereiro de 2021 (Foto: Divulgação/Ninjastrikers)

Os militares de Mianmar deram um golpe de Estado no dia 1º de fevereiro após alegar fraude nas eleições de novembro, vencidas pela oposição. Políticos oposicionistas foram presos, como a Nobel da Paz de 1991, Aung San Suu Kyi.

Desde então, a violência cresceu no país asiático, de 53,7 milhões de habitantes. Ao menos 38 pessoas morreram nos protestos realizados nesta quarta-feira – o maior número já registrado desde que os militares tomaram o poder à força.

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Países como EUA, Reino Unido e Canadá, além da UE (União Europeia), já implementaram ou consideram impor sanções para pressionar os militares e seus aliados comerciais. A maior aproximação de Mianmar da China, porém, diminui a chance de impacto real sobre a economia birmanesa.

O comércio dos EUA com Mianmar alcançou US$ 1,4 bilhão em 2019, apenas um décimo das trocas com a China – de cerca de US$ 17 bilhões no mesmo período, apontou a revista norte-americana “Foreign Policy”.

Foram os chineses que, com a Rússia, barraram a condenação ao golpe militar no Conselho de Segurança da ONU. Como carece de unanimidade em todas suas decisões, o órgão apenas expressou “preocupação” sobre a situação de Mianmar.

Tensão entre embaixadores

Apesar de Mianmar já ter um embaixador na ONU, o novo Ministério das Relações Exteriores do país apoia a posse de um “embaixador-adjunto” para assumir a representação.

Na segunda (1), o diplomata Kyaw Moe Tun confirmou o golpe no país em uma carta às Nações Unidas. O apelo para que os membros da ONU “usassem de todos os meios necessários” para restaurar a liderança civil do país descontentou os militares, que pediram pela remoção do diplomata.

“É uma situação única que não víamos há muito tempo”, disse o porta-voz das Nações Unidas Stephane Dujarric à CNN. A solução para o imbróglio sobre a cadeira de Mianmar na Assembleia-Geral será discutida nesta sexta-feira.


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