Inteligência dos EUA indica nova tentativa russa de interferir nas eleições de 2022

Além de propagação de fake news em redes sociais, Moscou quer interferir no debate sobre a pandemia, como vacinação e máscaras

Os serviços de Inteligência dos EUA indicam novos esforços da Rússia para interferir nas eleições norte-americanas de 2022, nas quais serão esciolhidos, entre outros, congressistas e governadores. A revelação foi feita por altos funcionários e ex-funcionários ouvidos com exclusividade pela emissora CNN. Mesmo com pedidos pessoais de Joe Biden a Vladimir Putin e uma nova rodada de sanções impostas a Moscou, o assédio russo não teria parado.

A estratégia russa inclui principalmente propagação de notícias falsas nas redes sociais e tentativas de gerar tensão com base no debate sobre a pandemia em curso nos EUA, particularmente a vacinação e o uso de máscaras.

Durante cúpula em junho, Biden pediu a Putin para que seu país não se intrometesse no pleito, apelo que parece não ter surtido efeito (Foto: Wikimedia Commons)

Emily Harding, ex-vice-diretora de gabinete do Comitê de Inteligência do Senado, afirma que os russos de fato demonstram interesse em agir digitalmente para interferir em pleitos realizados nos EUA. Mas que essa atividade é constante, e não limitada ao período eleitoral. “Nunca parou realmente, e não devemos ligar nossa atenção ou esforços apenas no ciclo eleitoral”, disse ela.

O presidente Biden já havia abordado as operações da Rússia recentemente, quando deu declarações públicas em seu informe diário de inteligência sobre “o que a Rússia já está fazendo sobre as eleições de 2022 e a desinformação”. “É uma violação pura de nossa soberania”, acusou ele em julho.

Pedido ignorado

Para Bill Evanina, oficial sênior de inteligência responsável por informar os presidenciáveis sobre as ameaças às eleições de 2020, os russos tendem a “ignorar” os pedidos para que não se intrometam, a exemplo do que fizeram nas últimas décadas.

“Não acho que ninguém no governo Biden ou no Congresso acredite que Putin mudará qualquer um de seus comportamentos porque pedimos que ele o faça”, resumiu.

Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional declarou que a defesa aos meios democráticos será priorizada, e garantir as eleições é fundamental. “Monitoramos constantemente as ameaças, incluindo esforços estrangeiros para influenciar ou interferir em nossos processos democráticos, e trabalhamos em estreita colaboração com as autoridades eleitorais estaduais e locais para proteger nossas eleições”, disse o comunicado.

China e Irã

Segundo o relatório, a China e o Irã também ensaiaram intromissões na política americana, mas uma fonte afirmou que, até o momento, não há indícios de que os atos estariam visando às eleições de 2022.

A China “tem intensificado seus esforços para moldar o ambiente político nos Estados Unidos e assim promover suas preferências políticas, moldar o discurso público, pressionar figuras políticas que Beijing acredita serem opostas a seus interesses e reprimir as críticas à China em questões como liberdade, religião e a repressão à democracia em Hong Kong”, alertou a comunidade de inteligência.

Evanina alerta, entretanto, que “a inteligência chinesa não é muito boa em manipulação social” e não se concentrou nisso. “A Rússia é dona desse espaço”, analisou o oficial de inteligência.

Por que isso importa?

A questão digital tem gerado constante atrito entre os dois países. Os EUA afirmam que a Rússia está por trás de ataques cibernéticos empreendidos por grupos hackers contra governos e empresas ocidentais, acusação refutada por Moscou. Washington, inclusive, impôs sanções financeiras a empresas acusadas de ligação com os hackers.

Em junho, durante a cúpula com Putin em Genebra, Biden instou Moscou a monitorar as atividades cibernéticas maliciosas, incluindo ataques de ransomware (sequestro de dados digitais) e interferência na política dos EUA. Considerando os novos relatórios, o pedido não surtiu o efeito desejado.

“Descobriremos nos próximos seis meses a um ano se realmente temos ou não um diálogo estratégico que importa”, disse Biden à época. “Vamos descobrir se temos um acordo de segurança cibernética que comece a trazer alguma ordem.”

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