Partido Comunista russo contesta eleição parlamentar e diz não reconhecer resultado

Sigla diz que vários de seus candidatos pareciam a um passo da vitória quando perderam posições para os governistas graças ao voto eletrônico

“Haverá pelo menos sete impostores de Moscou na Duma Estatal”. A acusação foi feita nesta segunda-feira (20) pelo secretário do Comitê Central do Partido Comunista russo, Sergei Obukhovov, que alega fraude nas eleições que definiram os membros da câmara baixa do parlamento. A conta oficial da sigla no Twitter publicou um vídeo da fala de seu representante. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

O pleito registrou denúncias de ataques cibernéticos de países estrangeiros contra o sistema online de votação. Diante das dúvidas levantadas, o Partido Comunista da Rússia afirmou que não reconhecerá os resultados da votação eletrônica, que teriam revertido de maneira suspeita a liderança até então sustentada pelos aspirantes comunistas aos cargos públicos.

O Partido Comunista reclama que vários de seus candidatos lideravam as disputas e pareciam estar a um passo da vitória quando, de repente, perderam posições para a sigla governista Rússia Unida à medida que os resultados do sistema online começaram a ser divulgados na segunda-feira.

Secretário do Comitê Central do Partido Comunista russo, Sergei Obukhovov, questiona sistema eleitoral online (Foto: @kprf/Reprodução Twitter)

“Vamos provar e convencer o país de que ele precisa se rebelar e lutar contra essas inovações digitais”, desafiou Dmitry Novikov, vice-presidente do Comitê Central do partido, durante entrevista à estação de rádio Ekho Moskvy.

Um exemplo foi o candidato comunista Mikhail Lobanov, que buscava a eleição em um distrito do oeste de Moscou. Ele alega que liderava com alguma folga a disputa contra seu adversário pró-Kremlin, o apresentador de TV Yevgeny Popov, por uma margem de 10,8 mil votos. Quando os resultados da votação eletrônica saíram, Popov acabou derrotando Lobanov com 20 mil votos de diferença.

“Sei que esse resultado não é possível. Portanto, peço a todos os candidatos que discordam dos resultados da votação eletrônica que se reúnam e discutam outras ações”, tuitou Lobanov, convocando os derrotados para um protesto na Praça Pushkin, no centro de Moscou.

As autoridades de Moscou recusaram os pedidos do Partido Comunista para realizar protestos na segunda (20), terça (21) e no próximo fim de semana, alegando restrições sanitárias em decorrência da pandemia de Covid-19.

Voto eletrônico contestado

Críticos e observadores eleitorais independentes condenaram o voto eletrônico, introduzido em Moscou e em outras cidades devido ao avanço do coronavírus, alegando que o sistema “torna muito mais fácil falsificar votos”.

As suspeitas de atividades fraudulentas cresceram com o não cumprimento das autoridades eleitorais em divulgar os resultados da votação online assim que as urnas fossem lacradas na noite de domingo (19) e com o adiamento de resultados, ocorrido diversas vezes.

Ouvido pela rede BBC, o chefe de TI da administração da cidade de Moscou, Eduard Lysenko Eduard Lysenko, justificou o atraso nos resultados devido à recontagem, que, segundo ele, ocorreu pelo menos quatro vezes. Ele vinculou essa necessidade à possibilidade de uma votação adiada, que era fornecida apenas aos moscovitas.

Por que isso importa?

Durante a corrida eleitoral, o Kremlin impôs uma forte repressão contra figuras políticas da oposição e a mídia independente, em meio a um processo de perda de popularidade do Rússia Unida e de Putin.

O governo chegou a obrigar Apple e Google a retirarem de suas lojas virtuais um aplicativo criado por aliados do opositor Alexei Navalny, sob risco de aplicação de uma multa às duas big techs. O opositor defendia uma estratégia de “votação inteligente”, que consistia em incentivar seus seguidores a apoiarem o candidato com melhor chance de derrotar o Rússia Unida em suas regiões.

Navalny é o principal crítico do governo Putin e está preso desde janeiro, quando retornou da Alemanha após cinco meses de recuperação médica. Ele foi envenenado por novichok, um agente químico que afeta o sistema nervoso e foi desenvolvido pela ex-União Soviética nos tempos da Guerra Fria. O oposicionista acusa Moscou de tentar matá-lo.

Em fevereiro, um tribunal condenou Navalny a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente no período em que estava em coma pela dose tóxica.

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