Rússia pressiona Apple e Google para que excluam aplicativo ligado a Alexei Navalny

Ferramenta promove o sistema de "votação inteligente" de Navalny na tentativa de derrubar o partido governista mais forte da Rússia atualmente

O governo da Rússia tem pressionado Apple e Google para que retirem de suas lojas virtuais um aplicativo criado por aliados do político oposicionista Alexei Navalny. Caso as duas big techs norte-americanas se recusem a fazê-lo, ficam sujeitas a multa, segundo a agência Associated Press.

A ameaça partiu do Roskomnadzor, órgão regulador da internet e dos meios de comunicação da Rússia, e tem como foco as eleições parlamentares deste mês. A determinação para exclusão da ferramenta vai na esteira de uma decisão da Justiça russa que qualificou a Fundação Anticorrupção (FBK) de Navalny como extremista e proibiu sua atuação

O aplicativo, por sua vez, promove o sistema de “votação inteligente” pregado pelo oposicionista, que consiste em incentivar que seus seguidores apoiem o candidato que tiver a melhor chance de derrotar o partido situacionista Rússia Unida em suas regiões.

Rússia pressiona Apple e Google para que excluam aplicativo ligado a Alexei Navalny
Alexei Navalny, político russo que faz oposição ao presidente Vladimir Putin (Foto: Alexei Ruban/Flickr)

Em meio à forte repressão do Kremlin contra os opositores do presidente Vladimir Putin, um defensor do sistema de Navalny já chegou a ser detido. No final de agosto, Nikita Ilyin diz que foi levado por agentes da polícia que o pressionaram para que fornecesse informações de aliados.

No momento da detenção, Ilyin segurava um cartaz que dizia “Vamos expulsar o Rússia Unida da Duma (o Parlamento russo). Votação Inteligente”. Ele protestou sozinho para driblar a legislação, uma vez que protestos coletivos exigem autorização do governo e podem enquadrar os manifestantes nas leis de combate à Covid-19, uma ferramenta bastante usada contra a oposição.

Oposição silenciada

Alexei Navalny é o principal crítico do governo Putin. Ele está preso desde janeiro, quando retornou da Alemanha após cinco meses de recuperação médica.

Em fevereiro, um tribunal o condenou a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente no período em que estava em coma pela dose tóxica.

Pessoas próximas a Navalny também têm sido punidas sob acusações ligadas aos protestos de janeiro deste ano. Inclusive o irmão dele, Oleg Navalny, condenado a um ano de prisão, com a pena suspensa pelo período probatório de um ano.

Nikolai Lyaskinm, chefe de campanha de Navalny, pegou um ano de “liberdade restrita”, mesma punição da advogada Lyubov Sobol e de Lyusya Shtein, deputada municipal e integrante do grupo feminista Pussy Riot. Kira Yarmysh, porta-voz do oposicionista, e Oleg Stepanov, coordenador da equipe de Navalny, foram sentenciados a um ano e meio.

No final de julho, o Roskomnadzor também bloqueou 49 sites ligados ao político. O órgão tirou do ar a página navalny.com e outras 48 pertencentes a pessoas e organizações ligadas a ele.

O Kremlin também tem atuado para silenciar a imprensa independente. Em julho, a polícia prendeu o jornalista que investigou o envenenamento de Navalny em parceria com o site investigativo holandês Bellingcat. Roman Dobrokhotov, editor-chefe do The Insider, foi detido por calúnia após a publicação de reportagens desfavoráveis a Putin. 

Por que isso importa?

Em 19 de setembro, a Rússia votará para escolher os membros da câmara baixa do parlamento russo, a Duma. Serão eleitos 39 parlamentares e nove governadores regionais.

Navalny espera reduzir a margem de vitória do Rússia Unida e causar um possível constrangimento em locais como Moscou e São Petersburgo, onde o sentimento anti-governista é mais evidente na população.

Na corrida para a votação, o Kremlin reprime figuras políticas da oposição e a mídia independente, enquanto a popularidade do Rússia Unida e de Putin diminui em meio aos esforços para lidar com uma economia fragilizada pela pandemia e anos de contínuas sanções.

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