A votação nas eleições parlamentares da Rússia, que se encerrou no domingo (19), teve denúncias de violência e mais irregularidades, mantendo assim o cenário de repressão que marcou todo o processo eleitoral. E, depois de esmagar a oposição, o presidente Vladimir Putin tende a sair vitorioso do pleito, cujas primeiras apurações indicam a vitória do partido governista Rússia Unida. As informações são da rede alemã Deutsch Welle.
Segundo Ella Pamfilova, diretora da comissão eleitoral, foram registradas 137 reclamações de coerção na votação. Já a organização russa Golos, que faz monitoramento independente de eleições, registrou somente no primeiro dia de votação 2 mil violações. Entre elas, urnas que foram guardadas durante a noite em locais com as portas quebradas, o que permitira o eventual acesso de fraudadores para depositar cédulas falsas, além de selos de lacre de urnas rompidos, o que indica possível fraude.
A agência de notícias independente russa Interfax informou que foram registrados ataques cibernéticos de países estrangeiros contra o sistema online de votação. Já o site russo Znak relatou que uma pessoa em Moscou estava oferecendo 1000 rublos (R$ 72,9) para os eleitores dispostos a votar no Rússia Unida.
As urnas permaneceram abertas na Rússia por três dias, entre sexta (17) e domingo (19). Com as apurações perto de serem concluídas, o Rússia Unida alega ter conquistado uma grande vitória, com 49,66% dos votos para o parlamento. russo, a Duma. O maior rival, o Partido Comunista, tem 19,56%, e o Partido Democrático Liberal, 7,51%.
O secretário-geral do Rússia Unida, Andrei Turchak, disse a apoiadores na sede do partido que a vitória foi “honesta e limpa”, segundo a Radio Free Europe. Ele diz que o partido espera conquistar 120 cadeiras através da votação na sigla, além de 195 nos votos diretos. Seriam, assim, 315 das 450 cadeiras da Duma e uma maioria de dois terços da casa, o que garante folga para continuar a apoiar os projetos de Putin.
Por que isso importa?
Durante a corrida eleitoral, o Kremlin impôs uma forte repressão contra figuras políticas da oposição e a mídia independente, em meio a um processo de perda de popularidade do Rússia Unida e de Putin, devido sobretudo à economia fragilizada pela pandemia e a anos de contínuas sanções.
O governo chegou a obrigar Apple e Google a retirarem de suas lojas virtuais um aplicativo criado por aliados do opositor Alexei Navalny, sob risco de aplicação de uma multa às duas big techs. O opositor defendia uma estratégia de “votação inteligente”, que consistia em incentivar que seus seguidores a apoiarem o candidato com melhor chance de derrotar o Rússia Unida em suas regiões.
Navalny é o principal crítico do governo Putin e está preso desde janeiro, quando retornou da Alemanha após cinco meses de recuperação médica. Ele foi envenenado por novichok, um agente químico que afeta o sistema nervoso e foi desenvolvido pela ex-União Soviética nos tempos da Guerra Fria. O oposicionista acusa Moscou de tentar matá-lo.
Em fevereiro, um tribunal condenou Navalny a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente no período em que estava em coma pela dose tóxica.