Wagner Group usa guerra para acessar riquezas naturais da Ucrânia, dizem analistas

Bakhmut e Soledar estão na mira dos mercenários devido às minas de gipsita e sal. Mas a vitória tende a custar caro demais

As cidades de Bakhmut e Soledar, na região ucraniana de Donetsk, parcialmente ocupada pelas forças da Rússia, são a atual obsessão do Wagner Group na guerra em curso na Ucrânia desde o dia 24 de fevereiro de 2022. De acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês), um think tank de defesa sediado nos EUA, existe um motivo: o grupo de mercenários está interessado nas riquezas naturais da área, conforme repercutiu a revista Newsweek.

O alerta já havia sido feito à agência Reuters por uma autoridade da Casa Branca, cuja identidade foi mantida em sigilo. Segundo a fonte, Evgeny Prigozhin, importante aliado do presidente Vladimir Putin e chefe da organização paramilitar russa, quer assumir o controle das valiosas minas de gipsita e sal de Bakhmut e Soledar, daí a “obsessão” dele pelas cidades.

Putin (esq.) e Prigozhin: de olho nas riquezas ucranianas (Foto: Wikimedia Commons)

No último sábado (7), Prigozhin usou seu canal no aplicativo de mensagens Telegram para afirmar que tais cidades seriam a “cereja no bolo” das conquistas russas na guerra, pois as redes subterrâneas locais poderiam ser usadas como abrigo por tropas e tanques de Moscou.

De acordo com o ISW, as palavras do aliado de Putin “provavelmente são uma tentativa de explicar o ritmo lento dos avanços do Wagner em torno de Bakhmut”, onde a guerra está mais concentrada nas últimas semanas. “Mas também podem explicar parcialmente sua determinação dispendiosa de meses para estabelecer o controle da área”.

O patrono do Wagner, segundo quem apenas seus mercenários atuam na tentativa de tomar a cidade, disse que os conflitos continuam se intensificando. “Na periferia oeste de Soledar há batalhas pesadas e sangrentas. As forças armadas da Ucrânia estão defendendo com honra o território de Soledar”, disse Prigozhin no Telegram, segundo o jornal The Moscow Times.

Ele ainda negou que o inimigo esteja se retirando do conflito. “Vamos ser honestos conosco. O exército ucraniano está lutando bravamente por Bakhmut e Soledar. Os relatos de sua deserção em massa não são verdadeiros”, declarou.

Vitória a um alto preço

A exploração de recursos minerais não é novidade para o Wagner Group, que foi acusado de fazer o mesmo em outros países nos quais marcou presença em conflitos. Em Burkina Faso, uma mina teria sido usada como pagamento aos mercenários. No Mali, fontes sustentam que os serviços da organização russa custem US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.

Independente do desfecho, a operação do Wagner em Bakhmut realmente tem custado caro. Foram mais de mil combatentes ligados ao grupo mortos por lá entre o final de novembro e o início de dezembro, segundo a Reuters. No total, a organização paramilitar, que serve aos interesses do Kremlin, perdeu cerca de 4,1 mil dos seus quase 50 mil integrantes em toda a guerra.

Por isso, o think tank norte-americano destaca que até defensores da guerra e de Putin passaram a criticar a obsessão de Prigozhin pelas cidades. Um blogueiro militar chegou a dizer que, mesmo que a região seja capturada, Moscou “perderia estrategicamente, devido ao comprometimento de suas melhores forças em uma batalha de desgaste”.

Denis Pushilin, um representante do Kremlin em Donetsk, afirmou nesta terça-feira (10) na televisão estatal que Soledar está “muito perto da libertação”. Entretanto, também admitiu que a conquista deve vir a “um preço muito alto”, afirmando que as forças ucranianas “ainda estão resistindo”.

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