Após acusação de espionagem, Rússia encerra sua missão diplomática na Otan

Decisão é uma resposta do Kremlin à expulsão de oito membros da equipe russa pela aliança, sob a acusação de atuarem como espiões

A Rússia decidiu suspender sua missão diplomática na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e fechar o escritório da aliança em Moscou. A decisão é uma resposta à expulsão de oito membros da equipe russa pelo bloco, sob a acusação de espionagem. As informações são da agência estatal russa Tass.

“Os movimentos da Otan confirmam que a aliança não está interessada em um diálogo equitativo ou em um trabalho conjunto para diminuir a luta militar e política. A linha política da aliança em relação ao nosso país está se tornando cada vez mais agressiva”, disse o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov.

Segundo Lavrov, em duas ocasiões, em 2015 e 2018, a Otan já havia restringido o acesso dos diplomatas russos ao escritório da aliança em Bruxelas. Agora, a expulsão dos membros russos foi a gota d’água em uma relação que já era turbulenta.

Sede da Otan, em Bruxelas (Foto: Otan/Flickr)

“Após certas medidas tomadas pela Otan, as condições básicas para um trabalho comum não existem mais”, disse Lavrov, segundo a agência catari Al Jazeera. “Em resposta, suspendemos o trabalho de nossa missão permanente, incluindo o trabalho do principal representante militar, a partir de 1º de novembro. Ou talvez demore mais alguns dias”, disse ele.

A partir de agora, o governo russo entende que qualquer diálogo entre a Otan e a Rússia deve ser feito através da embaixada russa em Bruxelas.

Por que isso importa?

A Rússia possui há duas décadas uma missão de observação na Otan, como parte de um acordo entre o Kremlin e a aliança a fim de promover a cooperação em áreas de segurança. O país, porém, não é membro do bloco liderado pelos EUA e que reúne outros 29 países, sendo 28 europeus e o Canadá.

As relações entre as partes começaram a azedar em 2014, com a anexação da península da Crimeia por Moscou. Há também um desalinhamento sobre questões como o desenvolvimento de mísseis nucleares russos e intrusões aéreas no espaço aéreo da aliança. Tais fatores contribuíram para limitar as conversas oficiais nos últimos anos.

Punições impostas pela Otan aos russos também não são novidade. Em 2018, após o episódio do envenenamento do ex-agente duplo russo Sergei Skripal na cidade inglesa de Salisbury, a Otan retirou o acordo para a nomeação de sete funcionários russos para a missão diplomática do país na aliança, além de negar os pedidos de credenciamento pendentes para três outros.

Agora, as expulsões dos oito diplomatas russos ocorrem sob a acusação de eles serem “oficiais de inteligência russos não declarados”. Ou seja, espiões. Também foram reduzidos pela metade os cargos da Rússia na aliança, de 20 para dez.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que as expulsões não estão ligadas a um evento em particular, mas afirmou que as atividades dos oito indivíduos não estavam de acordo com as suas credenciais.

Para o Kremlin, a decisão da Otan mina completamente as esperanças de que as relações pudessem ser normalizadas. Em coletiva, o porta-voz do governo, Dmitry Peskov, disse a repórteres que o diálogo não será retomado. “Na verdade, essas perspectivas estão quase completamente prejudicadas”, lamentou.

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