Detida, ativista uzbeque teme ser morta se for deportada pelo governo da Rússia

Valentina Chupik está em uma sala de detenção no aeroporto Sheremetyevo, em Moscou, e diz que sua condição de refugiada foi revogada pelo Kremlin

Valentina Chupik, uma advogada uzbeque que defende os direitos de migrantes e refugiados na Rússia, está detida desde sábado (25) no aeroporto Sheremetyevo, em Moscou. Ela teme ser deportada para o Uzbequistão e diz que poderia ser morta se retornasse a seu país natal. As informações são da Radio Free Europe.

Na Rússia, Chupik coordena o Tong Jahoni (Bom Dia Mundo, em tradução livre), um centro de apoio a migrantes e refugiados em casos de exploração trabalhista, deportação e detenção. Agora, ela informa que a condição de refugiada, que a mantém na Rússia desde 2009, foi revogada pelo governo. Ela também foi proibida de pisar em solo russo pelos próximos 30 anos.

“Os documentos que recebi dizem que apresentei informações falsas ou documentos falsos [às autoridades russas] quando solicitei o status de refugiada [em 2006], o que considero um absurdo absoluto”, disse Chupik.

Detida, ativista uzebque teme ser morta se for deportada pelo governo da Rússia
Valentina Chupik, ativista uzbeque refugiada na Rússia (Foto: reprodução/YouTube)

A situação, entretanto, tem sinais de perseguição política, uma retaliação pelo fato de ela expor a corrupção da polícia e de agentes de imigração russos. Foi justamente o que deu a entender um oficial da FSB (Agência de Segurança Nacional, da sigla em inglês), segundo o qual o caso está relacionado a “reclamações de agentes de segurança”.

“Acho que, se eu for deportada para o Uzbequistão, serei imediatamente colocada em um porão do SNB (Serviço de Segurança Nacional) e eventualmente morta lá”, afirmou Chupik, que foi detida pelas autoridades no setor de controle de passaportes do aeroporto, quando retornava de uma viagem à Armênia.

Saída do Uzbequistão

Chupik conta que deixou o Uzbequistão em 2006 quando o grupo de direitos humanos que ela gerenciava no país passou a ser perseguido pelas autoridades. Primeiro, ela foi pressionada a repassar ao governo metade da verba que recebia de organizações estrangeiras, o que recusou. Então, a pressão foi aumentando.

“Eles exigiram que eu fechasse a organização. Eles exigiram dar-lhes a organização. Em seguida, eles queriam que eu contratasse uma pessoa deles como contador da minha organização. E minha resposta foi ‘não'”, afirmou a ativista.

“Movimento arbitrário”

A ONG Human Rights Watch (HRW) teve acesso aos autos da detenção de Chupik e cita uma incoerência. Embora as autoridades citem a revogação do status de refugiada, os documentos de viagem russos dela foram renovados por cinco anos no último mês de julho.

“O momento e a maneira repentina da revogação do status de refugiada de Chupik, combinados com a tentativa de bani-la por 30 anos, indicam fortemente que a decisão não foi baseada em um processo administrativo de rotina, mas sim em um movimento arbitrário e punitivo que as autoridades tomaram em retaliação contra seu trabalho em prol dos migrantes”, diz a ONG.

Ainda de acordo com a HRW, “os advogados entraram com um pedido de ‘medidas provisórias’ junto ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), buscando a intervenção da corte junto ao governo russo para suspender a deportação de Chupik”.

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