Alemanha avalia papel na defesa de Taiwan diante da pressão chinesa

Berlim poderia fornecer armamentos e apoio logístico a Taiwan, em meio a atrasos dos EUA e crescente pressão militar chinesa

A crescente tensão no Estreito de Taiwan coloca o país asiático em situação de vulnerabilidade. Segundo artigo de Aylin Matlé* e Valentin Weber**, publicado na revista International Politik, atrasos e falhas nas entregas de armamentos pelos Estados Unidos têm deixado Taipé mais exposta a uma possível escalada militar da China.

Taiwan, considerada por Beijing uma província rebelde, enfrenta dificuldades sérias para fortalecer sua defesa. Entre os problemas relatados, estão atrasos em equipamentos essenciais, incluindo tanques, drones e mísseis, e a entrega de materiais danificados por mofo e água.

Autoridades norte-americanas afirmam que o presidente chinês, Xi Jinping, teria determinado que os militares estejam prontos para tomar Taiwan até 2027, aumentando a urgência de medidas de dissuasão.

Soldados do Exército alemão preparam projéteis de artilharia durante exercício (Foto: WikiCommons)

O artigo destaca que a Alemanha poderia desempenhar um papel estratégico. Apesar de já ser o segundo maior apoiador militar da Ucrânia, Berlim tem se mantido passiva em relação a Taiwan, mesmo diante do aumento da presença militar chinesa na região. A China, aliada da Rússia na guerra contra a Ucrânia, utiliza Taiwan como ponto estratégico para reforçar sua capacidade de abastecimento militar à Rússia, enquanto uma possível invasão teria impacto direto nas cadeias globais de semicondutores, essenciais para a indústria alemã e mundial.

O texto assinala que a Alemanha poderia contribuir com fornecimento de armamentos compatíveis com os arsenais de Taiwan e Estados Unidos, incluindo mísseis antiaéreos e antinavio, drones e sistemas de defesa terrestre. Além disso, Berlim poderia apoiar o armazenamento regional de equipamentos, garantindo pronta resposta em caso de crise.

Segundo Matlé e Weber, a ação alemã não só reforçaria a defesa taiwanesa como também enviaria um sinal político a Pequim, combinando pressão militar e econômica. O papel da Alemanha como maior parceiro comercial europeu da China confere ao país influência para tentar dissuadir ações agressivas, servindo de exemplo para outros Estados da União Europeia.

O artigo conclui que, embora a Alemanha não disponha atualmente de capacidade para fornecer grandes quantidades de armamento por conta própria, o aumento planejado do orçamento de defesa da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e projetos de cooperação industrial com parceiros do Indo-Pacífico podem permitir que Berlim fortaleça sua contribuição estratégica para a segurança de Taiwan.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

*Aylin Matlé é pesquisadora sênior no Centro de Segurança e Defesa do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP)
** Valentin Weber é pesquisador sênior no Centro de Geopolítica, Geoeconomia e Tecnologia da DGAP

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