Alemanha lidera campanha para armar a Ucrânia contra ‘ataques assassinos’ da Rússia

Berlim mobiliza aliados de dentro e de fora da Otan para que equipem Kiev em meio à onda incessante de bombardeios russos

As defesas da Ucrânia estão fragilizadas, conforme os EUA não retomam o fornecimento de ajuda militar e sem que a Rússia reduza a intensidade de seus bombardeios. Pois cabe à Alemanha, ela própria relutante em entregar determinado tipo de armamento, liderar uma campanha para que as forças de Kiev sejam capazes de defender suas cidades.

O jornal Financial Times (FT) teve acesso a uma carta enviada pelo governo alemão a uma série de países, de dentro de fora da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), pedindo que mais defesa antiaérea seja entregue aos ucranianos.

Assinada pela ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, e pelo ministro da Defesa, Boris Pistorius, a carta afirma que “cabe a nós ajudar a Ucrânia a se defender contra estes ataques assassinos.” O documento surge conforme Moscou intensifica os bombardeios sobretudo contra Odessa e Karkhiv e causa danos ainda mais severos ao sistema energético ucraniano que nos dois anos anteriores.

Treinamento com o sistema de defesa antiaérea Patriot nos EUA (Foto: Picryl/Divulgação)

“Apelamos para que façam um balanço de todos os sistemas de defesa aérea em seus arsenais e considerem o que poderia ser transferido para a Ucrânia, sistemas inteiros ou partes deles, de forma permanente ou por um período limitado”, dizem os ministros alemães na carta.

Embora tenha assumido a liderança desta campanha, a própria Alemanha impôs uma barreira no que tange a seu apoio à Ucrânia. Na semana passada, o chanceler Olaf Scholz confirmou que enviaria um sistema de defesa antiaérea Patriot a Kiev, segundo o site Politico. Porém, voltou a recusar a entrega dos mísseis de cruzeiro Taurus, devido ao risco de que sejam usados para atacar o território russo.

“Uma defesa aérea mais forte é uma questão de sobrevivência para milhares de pessoas na Ucrânia e da melhor proteção para a nossa própria segurança”, disse Baerbock na quarta-feira (17), durante reunião do G7 na Itália, conforme relatou o FT. “Nós e os nossos parceiros em todo o mundo devemos fazer mais para afastar o terror da Rússia dos céus.”

Dez contra um

A campanha liderada pela Alemanha surge conforme a Ucrânia vislumbra uma derrota caso não consiga manter seus sistemas de defesa antiaérea ativos. O presidente Volodymyr Zelensky admitiu que o país perderá a guerra se não receber novos pacotes de ajuda militar sobretudo dos EUA, que enfrentam barreiras políticas para liberar mais verba.

“Posso dizer, francamente, que sem este apoio não teremos chance de vencer”, disse Zelensky em entrevista à rede norte-americana PBS. “Você precisa ser muito mais forte que seu inimigo. Hoje, nossa proporção de projéteis de artilharia é de um para dez. Podemos manter nossa posição? Não. Em qualquer caso, com estas estatísticas, eles vão nos empurrar para trás todos os dias.”

A desvantagem já rendeu um alerta do general norte-americano Christopher Cavoli, chefe do Comando Europeu das Forças Armadas dos EUA. Segundo ele, a falta de munição força a Ucrânia hoje a enfrentar uma superioridade russa de cinco para um em termos de disparos. Ou seja, cada disparo de artilharia ucraniano é respondido por cinco do lado russo, algo que breve aumentará para dez, com disse Zelensky.

Enquanto a Alemanha faz campanha de um lado, Washington faz promessas do outro. O presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Mike Johnson, disse nesta semana que intensificou a campanha para que seus colegas legisladores finalmente liberem um pacote de ajuda que beneficiaria não apenas a Ucrânia, mas também Israel e Taiwan.

Contou com um empurrão do presidente Joe Biden, que cobrou dos legisladores mais rapidez, segundo noticiou a agência Associated Press (AP). “Eles têm que fazer isso agora”, disse o chefe da Casa Branca.

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