Aliado de Putin, chefe do Wagner Group acusa o governo russo de “traição”

Evgeny Prigozhin reclama que as forças armadas do país têm se recusado a fornecer munição a seu grupo de mercenários

Evgeny Prigozhin, chefe do Wagner Group e tradicional aliado do presidente russo Vladimir Putin, acusou importantes figuras governamentais de “traição”, aumentando a rixa com o poder estatal em meio ao conflito na Ucrânia. Ele reclama que seu grupo de mercenários, crucial para os esforços de guerra da Rússia, não tem recebido munição das forças armadas. As informações são da rede France 24.

“O chefe do Estado-Maior e o ministro da Defesa dão ordens a torto e a direito não apenas para não dar munição ao Wagner PMC (contratados militares privados), mas também para não ajudá-lo com o transporte aéreo”, disse Prigozhin em uma mensagem de voz divulgada pela assessoria de imprensa dele. “Existe oposição direta acontecendo, que é nada menos que uma tentativa de destruir o Wagner. Isso pode ser equiparado a alta traição”.

Em resposta, o Ministério da Defesa da Rússia emitiu um comunicado no qual detalhou toda a munição fornecida a “esquadrões de assalto voluntários”, expressão usada para se referir aos mercenários que auxiliam as forças armadas na guerra.

Integrante do Wagner Group em Donetsk, Ucrânia: rixa com o governo russo (Foto: reprodução/vk.com)

“Todos os pedidos de munição para as unidades de assalto são atendidos o mais rápido possível”, diz o texto divulgado pelo governo, que ainda prometeu realizar novas entregas no próximo sábado (25) e classificou como “absolutamente falsos” os relatos de Prigozhin.

Paralelamente, o Ministério elogiou os mercenários por sua “coragem”, criticando “tentativas de divisão” que são “contraproducentes e só jogam a favor do inimigo”.

Relação estremecida

A relação entre Prigozhin e o Kremlin já viveu dias melhores. Nos últimos meses, conforme o Wagner Group tem aumentado sua presença na Ucrânia, crescem também as críticas de seu chefe às forças armadas regulares. Ele habitualmente culpa a burocracia estatal pelas dificuldades que seus mercenários enfrentam na guerra e toma para si as principais conquistas militares russas no conflito.

Diante da rivalidade crescente com membros do governo e em meio à popularização de seu nome devido à guerra, o Wagner Group saiu das sombras e tem se esforçado para ter o máximo possível de visibilidade. Assim, Prighozin inaugurou uma sede oficial em São Petesburgo, abriu uma campanha pública de recrutamento de combatentes e até registrou a entidade legalmente no final do ano passado

A pergunta que segue sem resposta é o número de mercenários ativos na Ucrânia, pois nem a organização paramilitar privada nem Moscou divulgam esses dados. Porém, em boletim de inteligência emitido no dia 20 de janeiro, o Ministério da Defesa do Reino Unido anunciou uma estimativa.

“O Wagner quase certamente agora comanda até 50 mil combatentes na Ucrânia e se tornou um componente chave da campanha na Ucrânia”, disse o órgão de defesa britânico.

Recentemente, os mercenários reivindicaram os créditos pela tomada de Soledar, uma cidade estratégica ucraniana abundante em riquezas naturais na região de Donetsk, parcialmente ocupada pelas forças da Rússia. Na ocasião, Prigozhin usou o feito do seu grupo para desacreditar o exército russo.

Putin entrou em cena e rejeitou as alegações, afirmando que apenas as forças russas contribuíram para a captura de Soledar, segundo informações divulgadas pelo Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês) em janeiro.

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